ACREDITO EM JESUS
Faziam apenas três meses que eu trabalhava naquela firma. Isso depois de quase um ano parado na fila dos desempregados. Filha doente, mulher indiferente, minha vida um caos total. Amigos? Esquece. Nesta hora aprendemos que salvo raríssimas exceções, não passam de artigos de luxo com o prazo de validade vencido. Se não fosse meu ex-sogro Sr. Ermelindo, (que Deus o tenha), com certeza teria passado fome, e isto no quintal de meu próprio pai, que tinha seus princípios dizendo: Quem casa, quer casa. A vida corria a passos largos, finalmente chegou o quinto dia útil era o dia do pagamento.
Todo o dia dá-lhe ônibus lotados, tanto na ida quanto na volta. Por vezes encarava o percurso a pé, coisa de três horas de caminhada. Foi o que aconteceu neste dia. Ganhava muito pouco, mas precisava demais daquele dinheiro, minha vida estava conturbada pelo ano e pouco que fiquei desempregado. Ao receber o envelope e o dinheiro, apenas três cédulas, dobrei-as cuidadosamente e, guardei-as na capa de minha carteira profissional. Pelos cálculos chegaria a casa por volta das 21 horas. Pé na estrada, exausto, resolvi cortar caminho pela trilha de mato, assim ganharia uns quarenta minutos de caminhada. À noite sem luar e fria, ninguém na rua, o vento soprava forte, parecendo filme preto e branco de terror. Ouvi vozes e estremeci. Deparei-me com três pessoas agachadas calmamente, fumando os últimos tragos de maconha. Não tinha como correr, caí na armadilha por não seguir o instinto e prudência. Pareciam zumbis, não conseguia visualizar os rostos, estava escuro, mas entendi que estavam armados. Esbocei uma falsa calma que obviamente foi notada pelos meliantes e bocejei algumas palavras tipo olá pessoal tudo bem? Um deles respondeu, melhor ainda quando cooperar com a gente e entregar teu dinheiro. Gelei. Um filme passa pela cabeça. Cheguei até a pensar que seria meu ultimo dia de vida. Sem esforço, pegaram minha bolsa que continha minha marmita, ainda com restos do almoço, pois estava sem apetite. Nada acharam, esvaziaram meus bolsos que tinha algumas merrecas. Finalmente chegaram a minha carteira profissional. Impassível, mas a mente em turbilhão, pedi a Jesus que ajudasse, estendesse sua mão, que as pessoas em questão não me machucassem, e que não levassem aquele dinheiro, pois precisava encarecidamente e atrapalharia minha vida mais ainda. Abriram a carteira, meu coração parecia que saltaria pela boca, nenhuma nota caiu. Raivosos, jogaram a bolsa e a marmita no córrego ao lado, cerca de uns três metros de onde estávamos. Em seguida jogaram a carteira na mesma direção. Um deles com os olhos vermelhos disse: Corre porque cara duro não merece viver, vamos contar até dez, sua vida depende de suas pernas. Mais uma vez imaginei o nazareno, se fosse minha hora, que acolhesse minha alma, mas se não fosse que eu conseguisse me livrar daquele pesadelo intacto e vivo. Corri o suficiente pra ainda ouvir o silvo das balas aleatórias ferindo a pequena mata, ou não queriam me ferir, ou estavam drogados demais. Passado algum tempo, vagarosamente voltei, silencio total. E agora o que fazer? Ainda restava uma esperança, e se a carteira por milagre não tivesse caído no córrego? Ouço ruídos e vozes novamente, dessa vez era um vigia noturno e sua mulher que trabalhava em fabrica de salgados. Passava por ali, armado recebeu-me com desconfiança, expliquei o ocorrido quando se convenceu de que eu estava falando a verdade. Com sua lanterna (que não era dos afogados), clareou os pontos onde imaginei que pudessem estar lógico se ali estivesse minha carteira. Um aperto no coração. Ele apesar de penalizado com minha causa disse que nada havia ali, e que precisaria trabalhar, sugeriu que ao clarear o dia procurasse mais detalhadamente. Pedi sua lanterna acrescentando é a ultima vez. Cuidadosamente fui à beira do córrego. Quase enfartei. Segura apenas por uma haste de capim, no cai ou não cai, visualizei minha carteira. Peguei-a conferi e graças a Deus o dinheiro estava dobrado como havia deixado. Agradeci a ajuda do rapaz, e feliz novamente tomei o rumo de minha casa, onde minha mulher e filha dormiam serenamente, com o adiantado da madrugada. Como negar a sorte, como negar a mão divina? Realmente nunca soube responder. Sei que este episódio é real, e aconteceu comigo. Crer em Jesus é mais difícil que se pensa, Tomé acreditou apenas antes de ver as chagas na mão do mestre. Mas acredito em Jesus. E você?
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Nota do autor: Essa carta é o meu 500º texto no Recanto das Letras.
Cheguei graças a meus amigos à marca de 13000 leituras.
Quero agradecer a todos que me apoiaram desde 12-01-2012
Alegria sem fim abraça a todos.
Billy Brasil.
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Billy Brasil – 30-09-2012 – 06,32 hs – domingo –
PQI – SBC – SP
billybrasil11@gmail.com