Agora eu vi o gogó da muriçoca!

Estava num quintalzão extenso, cheio de árvores. O solo estava forrado de folhas secas. Foi durante o dia e o ambiente me fez lembrar as propriedades que eu costumava visitar em meu emprego anterior.

Eu avistei um casarão bonito, branco, com janelas e portas azuis. Me aproximei e entrei na casa. Fui direito para a cozinha, abri a geladeira de dois metros, tirei uma fatia de pudim, um pote de Danete. Pus coca-cola num copo. Fui comendo até a sala-de-estar e admirei os adornos na parede: acessórios indígenas, escudos, medalhas e cabeças de caça. Fui até o aparelho de som e coloquei um vinil para tocar. A música é aquela que diz: "entrei de gaiato num navio" do Paralamas. Subitamente escutei barulho lá fora. Vi uma turma chegando, caras de vinte e poucos anos.

Assustado, pulei a janela e eles perceberam. Me perseguiram gritando "pega ladrão!". Quando cheguei próximo do muro, era muito alto e não dei conta de pular. Eles me imobilizaram, amarrando-me deitado no chão. Ao escutar um deles sugerir "liga para a polícia" e ver outro tirando o celular do bolso, falei: "olha, não precisa fazer isso. Eu só tava lá na sala escutando umas músicas. Tem cinquenta reais aqui na minha carteira. Pega os cinquentinha aí e vamos deixar isso quieto!". Santa jumenteza!

Infelizmente acordei antes de saber se eles tinham aceitado a proposta.

Eu me vi do lado de lá! Agora eu vi o gogó da muriçoca!