Amados ausentes

A água lembra gema preciosa líquida de diversas tonalidades… azul-turquesa.

Fim de tarde. O Sol já apresentava aquele dourado envelhecido e belo. Pouco a pouco, na linha do horizonte-mar, sua luminosidade se ia diluindo…

Ela caminhava sobre a areia molhada e deixava efêmeras marcas das passadas que, no seu fluxo-refluxo, ondas caprichosas iam apagando, assim como desaparecemos todos com o perpassar do tempo.

Seus olhos liam a pictórica paisagem. Avistou, mais acima, um coqueiral extenso, com belas redes brancas. Gostava de ali deitar-se.

Seu andar agora era mais lento, pois a areia seca e fofa não lhe permitia ir com mais pressa – mesmo porque, não havia razão para isso…

Ao lá chegar, escolheu uma rede que estava mais isolada das demais e nela deitou-se confortável com seus pensamentos, a olhar o azul do céu engalanado com nuvens. Estas eram movidas por Éolo vagarosamente, às vezes formando imagens que lhe remetiam a suaves passagens da infância passada em Porto Alegre… Quantas doces lembranças!

Agora, em Salvador, sentia saudades de tudo e de todos a quem amara e que, por sua vez, a ela dedicaram seu mais profundo, dedicado e amoroso afeto. Não são ‘passado’: fazem parte de sua vida. São referências inesquecíveis e fundamentais, que guarda com carinho na memória da alma.

Neste enlevado estado de espírito, os sentimentos se sucediam variados, fugidios, incessantes… A saudade fazia-se presente e trazia consigo seus amados ausentes. Todos estavam ali, naquele hora, com ela. Luziam-lhe os olhos em incontida alegria: revivia!…

As folhas dos altos coqueiros se movimentavam como leques, em seu peculiar ritmo e pareciam dançar danças antigas ao ritmo do vento… Ao tocarem-se pareciam afagar-se sensualmente umas às outras; som agradável, verdadeiro alento…

Quanta paz sentia… naquele fim de dia… Fechou os olhos e deixou-se estar assim… sentir o céu acima e, perto de si, o mar sem fim … Seus amigos, seus amores…

Mirna Cavalcanti de Albuquerque Pinto da Cunha

Rio de Janeiro, 08 de Outubro de 2012