Tormenta
“Rômulo, Rômulo".
Ela murmurava baixinho enquanto revirava-se na cama, em meio a sonhos conturbados, dos quais mais tarde acordaria trêmula e fatigada, como de costume. As primeiras gotas de suor já se formavam em sua nuca e as pernas agitavam-se pesadamente debaixo das cobertas. O coração esmurrava o peito, acompanhado pela respiração ritmicamente frenética.
No sonho, as lágrimas embaçavam sua visão à medida que avançava loucamente pela mata úmida, sem conseguir se desviar dos galhos que pareciam apontar para todas as direções, arranhando sua face e seus braços nus. Sentia o pânico se alastrar dentro de si, por vezes tomando-lhe o fôlego e dando lugar a sofridos soluços. Queria acreditar que o encontraria a tempo, mas uma vozinha em sua cabeça insistia em dizer que era tarde demais. Ela então soltava gemidos fracos e se punha a correr ainda mais rápido, tentando ignorá-la.
Porém, quando sentiu que estava perto, perto o suficiente para que seus ouvidos captassem o som constante da correnteza, foi atingida pela súbita certeza de que Rômulo morrera. Seus membros congelaram e ela cambaleou até cair de joelhos no chão lamacento, cravando as unhas nele.
Sentia soluços formarem-se no fundo da garganta e cerrou os lábios, impedindo-os de escapar. Uma parte dela sentia que deveria vê-lo, como se só assim pudesse enfim deixar que as lágrimas escorressem e que o desespero tomasse conta de seu ser. Mas outra parte - a maior parte - desejava conservar a imagem que tinha dele. No entanto, a voz interior agora a recriminava.
Quanto egoísmo.
Mas o que deveria fazer? O quê? O mundo parecia estar desabando a sua volta. Seus membros tremiam de nervosismo.
Reunindo o que restava de sua energia, ela levantou, e a floresta ao seu redor girou, transformando-se em um borrão de tons de verde e marrom. Teve de se apoiar em um tronco tortuoso ao seu lado para não cair novamente. Arrastou-se por entre as árvores, seguindo os ruídos da correnteza. Atravessou as últimas árvores que delimitavam o espaço entre a clareira e a floresta, avistando logo em seguida o riacho. Ansiava em correr os olhos pelo local, mas o medo crescente em seu peito a impedia. Manteve-se olhando fixamente para um canto da clareira, onde só havia algumas pedras cobertas por uma grossa camada de musgo.
Sentia a brisa suave balançar seus cabelos, trazendo consigo um cheiro fétido que agora adentrava suas narinas e instalava-se na ponta de sua língua. Era estranhamente metálico. Demorou apenas alguns segundos para reconhecer o líquido quente.
Os músculos de sua face se retesaram ao mesmo tempo em que lágrimas brotavam de seus olhos. Suzana virou abruptamente o rosto na direção do cadáver. Começou a gritar, desesperada de dor.