SILVELANIO E SLISGILETTI - Lia de Sá Leitão 27 de setembro de 2012

As questões sociais se agravam em nossa sociedade e tudo parece fazer parte da paisagem, parte do modus vivendi das pessoas, sejam nos bairrões com gente mais humilde seja nos famosos e elitizados bairros que disputam espaços com belíssimas vistas para o mar verde esmeralda do litoral olindense.

O que importa dizer é que as maiores divergências entre os filhos recém nascidos dos pobre e dos ricos é a maneira como os cartórios permitem registrar a criança. É Lei registrar filhos sem negar os nomes do pai e mãe. Porém, nem sempre a ordem é real , mas, como tudo é possível em terras de Dona Brites, muita criança vai crescer apenas com os nomes da mães, das avós, das tias, e os malandros dos pais são dispensados da responsabilidade.

Os nomes dos filhos de casais abastados são bonitos, sonoros, Pedro Henrique, José Roberto, Agamenon, Eduardo, Felipe, Antônio Mariano, Solón, Solano, e tantos e tantos.

Pois bem, curiosamente as crianças da favela recebem os nomes mais complicados e engendrados devido à posição social dos pais na comunidade, se tem casa própria, se são casados na Igreja e no Forum, se o pai nunca esteve na delegacia e a mãe tem fama de trabalhadora.

Aquele que já recebeu o estereótipo FAVELA ou da favela é uma família dentre tantas outras, dignas, sérias e trabalhadoras que o projeto minha casa minha vida ainda não contemplou por causa dos rendimentos, os projetos governamentais também estipulam um valor pecuniário para possuir uma casa própria que não seja em favela.

Mas, vamos ao que interessa, os nomes das crianças: Cleistow, Marielucicley, Esclovinaldo, Daneyeil Mercurius, Sindovinicilos, e finalmente os nossos infelizes personagens, vergonha das famílias mais sérias e honestas de um morro nas redondezas da cidade de Olinda. Um rapaz de 20 anos com o nome de Silvelanio Petrosvinischi e o outro de 21 anos que atende por Slisgiletti Saurus da Silva.

Silvelanio estudou até a 4ª série na Escola municipal, aos dez anos brigou com a professora chamou uns palavrões e saiu arretado! Xingou mil palavrões e jurou que só voltaria ali se fosse para matar a esconjurada da mulher. A mãe foi na escola, acusou a professora de falta de pulso com o menino, mas, não fez mais que isso, anunciar que levaria na ouvidoria da Prefeitura, ali, nunca mais voltou mãe, filho e nenhum fiscal.

Também a escolinha ficava numa ponta de rua que nem carteiro entrava pelo portão principal devido ao alagamento de um esgoto estourado a céu aberto.

O melhor amigo de Silvelanio era o Slisgiletti, famoso desde muito cedo pela prática de pequenos furtos aos transeuntes como: carteira de cigarro aqui, dez real ali, short e camisetas estendidas em varal, adolescente foi se especializando, uma bolsa, um tênis, uma bicicleta, uma moto, celular. Não gostava de viver se arriscando queria levar uma vida mais pacata como tinha prometido a mãe no dia que saiu de casa aos quinze anos. Nunca quis saber da escolinha municipal aquilo era coisa para baitolas.

A vida fácil chegou até os dois rapazes. Logo que assumiram a vida independente arranjaram cada um uma companheira e logo as duas engravidaram.

Certo dia as mães estiveram de visita na casa dos rapazes, sentiram uma dor profunda no peito, a pobreza não se igualava a miséria nem aquela sujeira, a imundície ali era pior que a vida de esconde esconde da polícia que os rapazes levam. Sairam indignadas, e falando alto e em bom tom que a safadeza de viver no erro e fora da doutrina, ou seja, da igreja evangélica dava naquilo viver como bichos.

Os roubos nas avenidas em dias de congestionamento era inevitável as ameaças com revolveres nos vidros dos carros para roubar dinheiro, bolsas, celulares, a gritaria o assombro alarmava qualquer um e a qualquer hora do dia, pois a noite nunca há transito pesado naquela redondeza e os dois já estavam nas trocas das drogas, o dinheiro era para a bebedeira, os vícios e as orgias

Uma tarde os dois rapazes tomaram de assalto um carro. Saíram em disparada pela rua lateral, O homem que deixaram caído no canteiro de obras da rodovia, por sorte sem nenhum ferimento de arma de fogo ou arma branca era um delegado de polícia que pediu socorro e logo foi atendido.

Carros e carros de polícia em diligência, motos, até o helicóptero foi acionado, ao fecharem o cerco, os dois malandros abandonaram o carro numa das vielas e correram para o muquifo em que moravam. Pularam para cima da cama, se cobriram com um lençol fétido e ficaram de conchinha como um casal de namorados. A polícia adentra no barraco, puxa o lençol, e se depara com a cena. Levantaram os dois, interrogaram e um dos rapazes depois de preso assegurou que não era gay. A ideia de ficarem juntinhos na cama em situação de amor era para despistar a polícia que eles não eram bandidos, não roubaram o carro, não tinham drogas, não possuíam armas. Mas foi encontrado drogas, armas e as chaves do carro que Silvelanio não abandonou porque tinha um lindo chaveiro do clube que torcia fielmente.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 27/09/2012
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