LAWRENCE DAS ARÁBIAS E UM CAUSO NO CINE POLITEAMA - Lia Lúcia de Sá Leitão

Outro dia uma amiga me chamou de ladinho e disse assim: li uns textos teus, o sentimento do caos mas porque tamanha tristeza se você é pra cima,feliz, cheia de energia, não deixa ninguém ficar triste e berra aos quatro cantos que a tristeza só deve ser valorizada quando é hora de voltar pra casa de táxi depois de uns tantos golinhos de vinho? Realmente, o texto é pesado, dolorido, sofrido, nem sei se postei no Recanto das Letras, mas o péssimo humor do caos passou. Por causa dessa observação resolvi evitar expor os textos mais pesados para os amigos. Deixo as tranqueiras para o analista, afinal ele tem que gastar os neurônios para entender minha loucura textual. Falar em analista eita que a gente paga caro para alguém ouvir, ler, discutir as neuras dos outros, tudo seria tão facilmente resolvido numa mesinha de bar, boa música e sem alguns pares de olhos a filmarem dentro de um foco as projeções mais intimas possíveis sobre o pobre cristão solitário, cheio de silêncios, ali largado sem ao menos pensar na conta de energia ou no celular que finalmente emudeceu porque a bateria acabou.

Os que me conhecem sabem que da vida eu consigo filtrar o que é bom e o que é mau, sem as barbáries comuns nos bate papos, que é primordial se descartar o mau. Que nada, o mau também é bom na vida da gente! Analiso tudo bem certinho de tudo que é mau para não meter mão em vespeiros. O que é bom é bom e é bom nem dá para descrever!

Pois bem, vamos ao que interessa! Daqui uns meses tudo que eu escrever será fato inusitado, causos do cotidiano que a gente nem sabe o motivo do fiasco e da risadagem dos outros e terminamos celebridades familiares.

Esse causo aconteceu em Natal, Capital do Rio Grande do Norte numa mostra de filme no Cine Politeama, tem história esse cinema como tantos outros Cines das capitais nordestinas que mantinham a classe e o luxo em suas salas, hoje infelizmente os nossos cinemas foram convertidos igrejas que limitam o reino de Deus que é Universal em templos.

O Politeama foi inaugurado em grande estilo em dezembro de 1912. Ali a sétima arte era muito bem apresentada e representada em nome de uma sociedade que participava do lazer em ambientes distintos. A parte interna do Politeama possuía salões amplos e ricamente decorados com iluminação clássica, espelhos e lustres de cristal. A parte externa com jardins era outro ambiente. Lá estavam luxuosamente posta as mesinhas para um sorvete, uma gelada, chás, cafés, chocolates bolos e creio que não faltava o tradicionalíssimo quindim potiguar. Vale salientar que os antigos moradores falam dessa belle époque com nostalgia.

Com todo esse glamour a sociedade correspondia com sua presença refinada e de bons tons em clássicos como E o Vento Levou, Enfim nos idos de 64 dois anos após o lançamento de Lawrence of Arabia, filme épico original em inglês baseia-se na obra de T. E. Lawrence, Sete Pilares da Sabedoria, o filme explora a excentricidade, inteligência elegância de Lawrence na Península Arábica. Verdadeiro opositor e combatente contra os turcos e aliado aos árabes mostrou-se um guerreiro destemido nas areias do deserto.

O filme é dirigido por David Lean e vencedor em 1963 do Oscar nos EUA nas categorias de melhor filme, melhor diretor, melhor edição, melhor direção de arte a cores, melhor fotografia - a cores, melhor som e melhor trilha sonora.

Já legendado para o português e campeão de bilheteria. Lawrence das Arábias tornou-se também um clássico da sétima arte em Natal. A história do herói britânico que vivia pelejando (leiam guerreando), vencendo como um beduíno valente não só as tempestades como o areal e o sol escaldante do deserto sem contar os arqui-rivais os turcos otomanos.

Nesse momento também histórico para o nosso protagonista maior o Cine Politeama, ali numa tarde quente dos trópicos, um casal que apesar do casamento em terras sergipanas estavam ali nas terras potiguar, enamorados, ele oficial do exército ela a mãe dedicada de três lindas e encantadoras crianças. O sábado era sagrado para as famílias cristãs se concentrarem em união e fé na Missa da Matriz Nossa Senhora da Apresentação, a Padroeira de Natal depois o sorvete e finalmente o filme. ( Eu e muita gente imagina que os Padroeiros de Natal são os Três reis Magos, engano Histórico.)

Assim, aconteceu com aquele jovem casal e outras tantas pessoas da sociedade, primeiro os compromissos com a Santa e Poderosa Madre Igreja depois os apegos pelo imaginário da sétima arte, ele o heroi, forte, dominador, inteligente, ela a mocinha sonhadora que suspirava de paixão pelo eloqüente e garboso artista.

Imagine caro leitor o segredo das mulheres diante da beleza do ator e do lado um namorado, marido ou amigo nordestino, o ator alto, cheio de músculos, o companheiro baixinho, moreno, nem sempre cabeça chata, mas do tipo machão, sem muitos trejeitos de artista, sem muita demonstração de afetos em público a não ser o de domínio do varão protetor do sexo frágil.

A história real revela que o Lawrence, foi um oficial britânico, escritor, diplomata, espião, arqueólogo, que foi um dos principais mentores da independência da Arábia e levou aquela gente à vitória contra os turcos otomanos, o prato cheio para os sonhos mais que secretos da mulherada. Ouviam-se suspiros, pigarros. Algum leve, oh! Outro suspiro, e mais suspiros,um soar de nariz, e um casal levanta-se e sai da sala de projeção.

Ele com o semblante contrariado, ela com os olhos inchados e vermelhos, saíram do Politeama, dirigiram-se mais que depressa para casa e lá ele tomou de um colírio de colocou nos olhos dela que ainda inchados e vermelhos e lacrimejantes mais pareciam contaminados por uma forte conjuntivite, ele intrigado pergunta: querida o que aconteceu para tal situação? Ela responde com a voz fininha e meiga, meu amor foi aquele deserto e as nuvens de poeira que me deixou desencantada e desorientada, eu não podia prestar atenção ao filme, os olhos ardiam, , não deu tempo de esconder o rosto daquele areial que caiu todo em cima de mim.

“Todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Os que sonham de noite, nos recessos poeirentos das suas mentes, acordam de manhã para verem que tudo, afinal, não passava de vaidade. Mas os que sonham acordados, esses são homens perigosos, pois realizam os seus sonhos de olhos abertos, tornando-os possíveis”. — T.E. Lawrence, Os Sete Pilares da Sabedoria.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 27/09/2012
Código do texto: T3903780
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