UM SER ULTRAPASSADO

Hoje me aposentei

De um longo período trabalhado,

E tudo o que conquistei...

Foi uma merreca, foi um trocado!

Sempre fui homem trabalhador,

Meus dias assim serão honrados...

Sei que meu tempo atravessou,

Agora sou só mais um aposentado!

Inda que poeta eu seja,

Sou simplesmente um prosador...

Citando versos com a proeza de m’ alma!

Profeta não me eleja,

Sou meramente um escritor...

Que com a palma das mãos, a pena acalma!

Mas fiz concreto e pus tijolo,

Com argamassa paredes embocei...

Fui um esperto, não fui um tolo,

E xilindró, nesta vida eu não provei!

Joguei bola, aprendi e ensinei,

Estudei, e numa escola me formei...

Hoje vejo sorridentes pelas ruas,

Pacientes, que sanei as dores tuas!

Somos seres transcendentes,

Se daqui somos, não sei...

Só sei que me aposentei,

E ultimamente sou somente...

Um velho labutador ausente!

Destes momentos que vivi,

Algum tempo, terei para pensar,

Pra refletir e meditar...

Sobre tudo que nesta vida aprendi!

Fui doutor, fui estradeiro,

De jardins fui jardineiro...

Fui garçom, fui cozinheiro,

Fui capacho boiadeiro!

Fui piloto, fui carpinteiro,

No campo fui fazendeiro...

Fui um maroto, fui escoteiro,

Não fui o último, nem o primeiro!

Minhas mãos são calejadas

De tanto que pelejei...

Venci todas as jornadas,

Porque nunca me entreguei!

Fui um grande aristocrata,

Muita coisa eu conquistei...

Hoje a vida a mim retrata,

Tudo aquilo que eu passei!

Namorei várias donzelas,

Só com uma me casei...

Tive filhos com duas delas,

Mas só com eles me apaixonei!

Vivo solto no meu paraíso,

Aguçado aos meus devaneios...

Vá sabendo o que é preciso,

Por inteiro ou pelos meios!

Quanto tempo se passou,

Sei que não fui favorecido

Envelhecido agora estou...

Pelo o governo fui vencido!

Quanto imposto me cobrou,

Do meu suor se alimentou...

Dos meus bens compartilhou,

E do meu sangue ele sugou!

Mas nada ainda se acabou,

Apenas, sou mais um considerado...

Que aos Oitenta se aposentou,

Neste País... “Democratizado”!

Quando me olho no espelho,

Vejo um homem alquebrado...

Que nem comigo me assemelho,

Sinto-me assim, um ser ultrapassado!

Autor: Valter Pio dos Santos

Set-2012

Valtin Kbça Dipoeta
Enviado por Valtin Kbça Dipoeta em 26/09/2012
Reeditado em 24/10/2013
Código do texto: T3902574
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