A Freirinha - Parte 1 - In contos
Cansada daquela vida de interior, trabalhando na roça, cuidando das criações : porcos, galinhas, vaca, cabras, cabritos; isto, além de cuidar da casa. Ela, Josefina Santos Chagas, decidiu que queria levar uma vida
tranquila, sossegada; uma vida contemplativa. Ela, própria, não sabia o significado desta palavra, mas imaginava uma vida extremo oposto daquela em que vivia. Sonhava, simplesmente, em não fazer nada. Absolutamente nada. Desde pequena, ouvira que as freiras em vizinho convento, viviam uma vida de beatitude, sempre a rezar; estas noivas de Cristo não faziam nada se não adorar a Cristo; cuidando do corpo e da alma; fazendo caridade e tal.
Incubou apaixonada esta ideia e, entre, o pensar e a ação foi questão de poucos dias. Malas na mão; a despedida dos pais, irônica em verdade, pois sabiam que a filha não tinha vocação nenhuma, apenas,
fugia do trabalho pesado; riram dela, daquele riso loquaz.
- Você volta antes do que pensa - dizia aquele sorriso.
Josefina entra para o convento ansiosa por viver a ociosidade das
práticas religiosas: para ela só rezar...rezar...rezar. Dormir até tarde;
estudar a Bíblia, decorá-la e, depois, cuspi-la vomitando palavras a quem quisesse ouvir. Fácil, não ??.
Consternada, descobriu no dia seguinte, que não era bem assim. Ao
longe ouviu o repicar do sino, parecendo soar ali próximo aos ouvidos.
Resistiu,bravamente, virou-se para o lado, colocou o travesseiro sobre a cabeça e dormiu.
Qual não foi o seu susto ao ouvir fortes pancadas na porta e, lá fora, alguém berrando o seu nome a plenos pulmões.
- Levanta, menina. Já é hora.
Josefina olhou o relógio: eram, exatamente, 10 para às 05:00 da manhã, portanto, madrugada.. Ingenuamente, perguntou:
- Levantar ??. A esta hora ??. Para quê ??. Deus, ainda, deve estar
dormindo.
Como resposta a porta,quase, veio abaixo de tanta pancada que recebeu do lado de fora.
- Abra isto, agora. Você deve participar das primeiras orações do
dia. A hora do Ângelus.
Pensou ela cá dentro:
- Ângelus ??. Quem, diabos, é Ângelus ?? - refletiu ela, e respondendo, disse: - pode ir, que já estou indo. Vou me vestir primeiro.
A porta aquietou-se e passos distanciando-se da porta indicavam que a tempestade passou. Agora só a calmaria.
Voltou a dormir.