Latas

O pai saia cedo pro pasto a chamar as vacas pro curral. Num arranco tomava o balde barulhenta nas mãos e aos mancos e assobios seguia seu rumo. As vacas surgiam enfileiradas na neblina. Com o tempo, trilhos eternos se formaram no chão pisoteado pelas patas pesadas e calmas. No assento improvisado de madeira, tradicional entre os vaqueiros do interior mineiro, o pai se equilibrava e puxava a teta das vacas leiteiras. Até hoje ouço o espirro do leite chiando no balde. Parecia tiro de desenho animado. Depois do leite tirado os bezerros mamavam as sobras. Finalmente com as tetas mais leves as vacas enfileiradas deixavam o curral. O pai voltava para casa aos mancos e assobios... Por lá esperava o caminhão leiteiro buscar as latas cheias pra abastecer o povo da cidade. Hoje as antigas latas de leite de meu pai estão sempre vazias tirando tarefas de abandono nos jardins da fazenda.

Danielle Terra
Enviado por Danielle Terra em 24/09/2012
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T3898700
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