Latas
O pai saia cedo pro pasto a chamar as vacas pro curral. Num arranco tomava o balde barulhenta nas mãos e aos mancos e assobios seguia seu rumo. As vacas surgiam enfileiradas na neblina. Com o tempo, trilhos eternos se formaram no chão pisoteado pelas patas pesadas e calmas. No assento improvisado de madeira, tradicional entre os vaqueiros do interior mineiro, o pai se equilibrava e puxava a teta das vacas leiteiras. Até hoje ouço o espirro do leite chiando no balde. Parecia tiro de desenho animado. Depois do leite tirado os bezerros mamavam as sobras. Finalmente com as tetas mais leves as vacas enfileiradas deixavam o curral. O pai voltava para casa aos mancos e assobios... Por lá esperava o caminhão leiteiro buscar as latas cheias pra abastecer o povo da cidade. Hoje as antigas latas de leite de meu pai estão sempre vazias tirando tarefas de abandono nos jardins da fazenda.