Perder e Encontrar
- Posso sentar ao seu lado?
Foi assim que me abordou um Senhor de cabelos grisalhos, olhos turvos e de vestes amarrotadas. Sinalizei positivamente e continuei a mexer no meu celular. Estava tão distraído com todos os meus aplicativos que havia esquecido todo o movimento na praça, inclusive daquele sexagenário que comigo dividia o banco. Foi aí que ele puxou conversa:
- O que você faz tanto aí com esse aparelho?
- Jogando – respondi com um tom pouco amistoso.
- Deve ser um bom jogo...
- Sim, é um bom passatempo.
- Então você quer que o tempo passe?
- E quem não quer?
- Eu. Mas não posso contra ele. Afinal, quem pode?
Sempre fui assim meio introspectivo, porém aquela troca de palavras com aquele homem me fez ter vontade de falar um pouco mais. Acabei pausando o jogo e dessa vez foi minha a iniciativa de prosear com o Senhorzinho:
- Tem celular?
- Quem eu? Perguntou-me surpreso.
- Sim, o Senhor mesmo. Tem celular?
- Não sou muito chegado a essas máquinas meu filho. O marca-passo já me é suficiente.
- Mas porque não gosta? É tão útil.
- Útil? Esse troço?
- Claro que é! O Senhor não sabe pra que serve?
- Sei, e como sei. Serve pra atrapalhar a vida da gente.
- Ah, não diga isso, é impossível viver sem nos dias de hoje.
- Então eu tenho muito orgulho de fazer o impossível há 64 anos. Uma marca e tanto!
- Inclusão digital: Sabe o que significa esse termo?
- Inclusão sócio-afetiva: Sabe o que quer dizer este? Olhe meu ilho, esse mundo é muito louco. Não entendo como dois vizinhos, que moram um do lado do outro, ficam conversando através da tela de um computador. Não compreendo uma inclusão que faz um jovem ter mil amigos na rede e quando quer chorar, às vezes, não tem ninguém pra lhe dar o ombro. Entre a inclusão digital e a exclusão de uma vida contemplativa, prefiro terminar o resto dos meus dias sem ter esse bendito celular- Após uns dois minutos de silêncio, ele me faz uma nova pergunta- Deve me achar um velho ignorante, não?
- De maneira nenhuma. Respeito a sua forma de ver as coisas.
Pois é meu filho, antes de toda essa tecnologia a vida era mais vivida. Esse tal do celular mesmo, nossa como é insuportável. A pessoa não pode passar duas horas sem que tenha alguém querendo te rastrear. Antes todos se perdiam e todos se encontravam...Era maravilhoso.
“Se perdiam e se encontravam”. Nossa, aquelas palavras ecoaram dentro da minha mente que acabei submergindo em meus próprios pensamentos e nem notei a partida do meu “companheiro de banquinho”. Foi quando escutei o toque de alerta: tinha uma nova mensagem. Era um colega da faculdade perguntando onde é que eu tinha me metido durante toda a tarde. Quando ia responder, olhei para a fonte que estava a uns 15 metros de distância. Ali joguei meu celular e parti. Vou deixar que me encontrem.