FAROESTE - Cap -6

Sob pseudönimo de J.G.Hunter

Capítulo Sexto

“O mascarado”

Chambord fechou seu banco. Olhou por toda a rua. Sentiu-se dono da cidade. Não sabia por que a senhorita MacGreen havia mandado lhe devolver cinqüenta mil dólares e mais uns trocados pela papelada do empréstimo. Ela estava salva de uma penhora. Desgraçada! Queria tanto aquele rancho.

Pensando assim, continuou pela rua carregando uma valise com os preciosos dólares que ela havia mandado devolver. Eles já estavam contabilizados a fundo perdidos em seu banco e os colocaria em seu cofre particular em sua casa. Trancou-se em seu quarto. Removeu um quadro na parede e lentamente começou a abrir o cofre.

Ouviu um ruído atrás de si. Antes que tivesse tempo para verificar, uma voz imperativa ordenou:

— Continue senhor Chambord — disse alguém saindo de por detrás de seu guarda-roupa com um lenço pelo rosto engatilhando um colt.

Não! O pesadelo de perder novamente aquele dinheiro não iria começar novamente — pensou Chambord apavorado.

— Quem...

— Isso não interessa senhor Chambord — disse a voz novamente.

Chambord parou por um momento de abrir seu cofre. Mesmo apavorado conseguiu pensar: aquele intruso não deveria saber que sua maleta estaria com cinqüenta mil dólares... ele deveria estar de olho em seu cofre e nele não havia muito dinheiro naquele dia...

— Podemos fazer um acordo, cavalheiro. Eu vim fazer uma pequena retirada para uma emergência... Se o problema é dinheiro leve tudo do meu cofre — propôs Chambord, satisfeito por ter tão brilhante idéia.

— Deixe o cofre aberto e encoste-se de frente na parede — ordenou o mascarado às suas costas. Chambord sorriu levemente para si.

— Sem problemas, cavalheiro...

— Melhor, esvazie este cofre e coloque tudo nesta maleta!

Chambord empalideceu! O mascarado continuou a falar:

— Se não couber coloque o resto aqui — e atirou junto ao cofre um alforje velho. — Seu banco nunca vai à bancarrota, não é mesmo, senhor Chambord, mas de agora em diante irá! Quero ver até onde vai seu poder nesta cidade! Se acaso sair um centavo sequer daquele banco sem ser contabilizado, eu o pegarei para mim.

— Já que o amigo sabe de tantas coisas... poderemos ser parceiros. Sócios! — comentou Chambord, pesarosamente, enchendo a valise com o dinheiro que retirava do cofre.

— Podemos pensar nisso — disse a voz bem próxima às costas de Chambord. E quando Chambord tentou uma reação, recebeu uma forte coronhada na cabeça, desmanchando-se pelo chão. O estranho acabou de encher a valise colocando o restante do dinheiro no alforje e saiu.

*****

Timoty Jacob ajeitava seu paletó ao sair pela rua. A noite havia chegado. Em passos miúdos caminhava rumo ao saloon. Seria mais uma grande noite. Ao virar a esquina rumo à rua principal, alguém, praticamente, trombou nele. Tinha o rosto coberto por um lenço e um revólver encostou-se em seu peito. Timoty Jacob ficou estático.

— Não precisa ter medo — disse o mascarado —, quero apenas um favor do amigo. Sei que é excelente nas cartas e aqui esta uma ajuda de cinco mil dólares — mostrando um maço de notas bem lacradas com uma tarja de papel —, quero que humilhe aquele miserável do Chambord hoje no saloon e na frente de todos.

Timoty Jacob não sabia o que fazer. Um maço de notas balançando na sua frente e um revólver encostado em seu peito e um pedido estranho.

— É um pedido muito estranho, amigo — gaguejou ele ao mascarado.

— Não precisa devolver esse dinheiro. Quero apenas que humilhe o senhor Chambord ao máximo! Quando a rodada estiver boa, coloque este pacote de dólares em cima da mesa e o mande para o inferno... e mostre a ele quem manda nesta cidade!

— E se eu recusar — não entendendo aquele pedido estranho.

— Eu estarei no saloon, caso o senhor pense desistir. Vá!

Timoty Jacob saiu pela rua calmamente. O mascarado desapareceu pela esquina. Sua mão direita dentro do bolso de seu paletó já estava pronta para sacar sua navalha, mas quando viu aquele maço de dólares balançando frente ao seu nariz a guardou. Aquele estranho havia comprado a própria vida com aquele dinheiro, caso contrário, seria retalhado pela barriga em segundos!

Era um pedido exótico! Mas como tinha lá suas queixas contra Chambord daria tudo para vê-lo debaixo de seus pés numa rodada de pôquer. Nunca arriscava muito o seu dinheiro numa rodada duvidosa... quando não podia recolocar suas cartas extras na manga. Nem toda hora podia sair da mesa e colocá-las no devido lugar.

Aquela noite, além de não gastar seu próprio dinheiro, havia se preparado bem para enfrentar os seus adversários. Somente uma coisa o deixava curioso: quem seria aquele mascarado que desejava tanto humilhar Chambord! Fosse quem fosse lhe daria tal prazer.

Chambord parecia contrariado. Sentou-se à mesa mais ao fundo entretendo-se com cartas. As primeiras rodadas não lhe foram muito favoráveis. Jogou suas cartas na mesa num gesto de raiva e deixou seus amigos digladiarem-se por aquela ninharia de dólares em cima da mesa. Timoty Jacob também fez o mesmo.

Depois de mais duas rodadas, Timoty Jacob dava as cartas e conversava o tempo todo pedindo mais uma rodada de uísque. Quando Chambord desviou os olhos de suas mãos para apanhar o copo de uísque, Timoty Jacob manuseou o baralho com maestria jogando as cartas a todos. Porém, as cartas dadas a Chambord, saiam por baixo do baralho.

Sabia que Chambord tinha em mãos um “four de reis”: um rei de cada naipe... a quinta carta não importava e Chambord iria jogar pesado com o que tinha em mãos e sabia disso. Jamais ele iria desfazer-se de seu precioso “four”. Por isso, não pediu para trocar cartas. Timoty Jacob deu uma baforada em seu charuto preso nos lábios jogando uma nuvem de fumaça na cara de todos. Todos tossiram abanando a fumaça.

Era isso que queria. Naquela fração de segundos tirou duas cartas da manga do seu paletó e escondeu duas, vendo a nuvem de fumaça se dissipar lentamente por sobre a mesa.

— Esta parecendo uma locomotiva, senhor Jacob — murmurou Chambord pondo algumas fichas na mesa e tirando risos dos outros jogadores.

Timoty Jacob não se importou com o comentário. Abriu lentamente suas cartas: havia em suas mãos cinco cartas. Uma dama de espada... um ás de ouro, um ás de paus, um ás de espada e um ás de copas... isto é, um “four de ás”... que ganharia de qualquer outro “four”! Mentalmente sorriu para si.

Chambord olhou suas cartas e mal pode conter um sorriso.

Um dos jogadores depois de trocar suas cartas jogou-as em cima da mesa. Desistiu. Um outro fez o mesmo. Mais dois jogadores saiu do jogo, pesarosos ao ver um monte de fichas na mesa. Somente Chambord e Jacob estavam no jogo.

Jacob dobrou a aposta de Chambord, que se fez de simplório por um momento deixando todos apreensivos. Depois... ele empurrou todas às suas fichas para o monte ao centro da mesa.

Timoty Jacob esperou alguns segundos fazendo cara de amedrontado e indeciso. Lentamente, aproximou todas as suas fichas também para o centro da mesa e olhou para Chambord. Todos ficaram num silêncio profundo.

Chambord levou a mão no bolso interno de seu paletó. Retirou um monte de notas e contou uma a uma num gesto para humilhar seu adversário. Depois, atirou o calhamaço de dinheiro no meio da mesa e disse:

— Mais dois mil e quinhentos dólares, senhor Jacob!

Um silêncio intrigante tomou conta do saloon. Até mesmo os outros freqüentadores já haviam percebido algo estranho naquela mesa de jogos e reuniam-se em volta dela. Jacob estava quieto. Chambord, aproveitando-se da platéia em derredor, tripudiou:

— Não temos a noite toda, senhor Jacob!

Timoty Jacob viu ali sua oportunidade de humilhá-lo publicamente. Levou também a mão no bolso de seu paletó e retirou o maço de dólares que o estranho lhe dera e disse:

— Pago seus dois mil e quinhentos dólares e dobro! Aí tem cinco mil dólares, senhor Chambord!

Um sussurro ouviu-se pelo saloon. Havia muito dinheiro naquela mesa.

— Pode dizer onde arranjou esse dinheiro, senhor Jacob? — perguntou Chambord, surpreso ao olhar o maço de notas ainda com um lacre que lhe era peculiar.

Todos estranharam a atitude de Chambord.

— Não é somente o senhor que tem dinheiro, senhor Chambord!

— Seu miserável! Acabei de ser assalto em minha casa há poucos minutos! Um mascarado levou todo o dinheiro do meu cofre e aí esta ele! — Tardiamente Jacob percebeu que havia caído em uma cilada. Caiu para trás com um tiro no peito.

— Chame o xerife! — gritou Chambord, raivoso.

— O que esta acontecendo aqui! — disse o xerife que já vigiava Chambord. Olhou para o cadáver de Timoty Jacob.

— Ele roubou todo o meu dinheiro, xerife! Limpou o cofre de minha casa agora mesmo! Esse dinheiro é meu! — berrou Chambord percebendo que ninguém estava acreditando em sua história.

— Senhor Chambord... pode provar isso! — inquiriu o xerife.

— Ora, xerife, eu estava sozinho em minha casa — resmungou.

— Chambord atirou nele sem motivos. Ele iria ganhar — disse alguém.

— Não foi por isso... tenho dinheiro o bastante para cobrir qualquer aposta! — retrucou Chambord.

O xerife virou o cadáver. Algumas cartas saíram da manga do paletó de Timoty Jacob. Todos viram.

— Olhem! Olhem — disse Chambord vendo a chance de sua defesa. — Ele trapaceava. Sempre trapaceou a todos, por isso, o matei! Ele me roubou em minha casa e iria apostar meu próprio dinheiro. Olhem o lacre do dinheiro... é do meu banco!

— Pelo visto, ele trapaceava mesmo. Isso é verdade, xerife — disse um dos jogadores.

— Chambord tem razão, xerife. Ele trapaceava. Merecia isso! — murmurou outro jogador.

— Bem, diante das evidências não posso prendê-lo, senhor Chambord. Quero todos os envolvidos em minha delegacia.

— Eu não vou ser roubado por um barbeiro, xerife! Olhe o timbre do meu banco nesta tarja! Este dinheiro estava no meu cofre — defendia-se Chambord indignado.

— Vamos conversar na delegacia. Não quero criar tumulto por aqui... continuem a se divertir rapazes! Vamos.

Chambord e o xerife caminhavam lado a lado pela rua.

— Era o dinheiro que a senhorita MacGreen havia devolvido e o restante estava no meu cofre.

— A senhorita MacGreen contou-me uma história fascinante. Ela suspeitava do nosso barbeiro e ele morreu coitado. De todos os suspeitos da lista dela somente resta o senhor. Alguém quer vê-lo na bancarrota.

— Que insinuações ela fez ao meu respeito?

— Isso ainda esta sob investigação. Peter Simon morreu. George Benedict morreu. Nosso barbeiro morreu. Um mascarado ataca o senhor... creio que a próxima vítima a morrer, se não estou agourando, deve ser mesmo o senhor. Tome cuidado!

— O mascarado que me atacou não tirou minha vida porque não quis! Parece que ele sabia o que estava fazendo.

— Espere um momento... acha que a mesma pessoa que o atacou iria mostrar ao senhor o fruto do roubo e correr o risco de ser fatalmente reconhecido? — perguntou o xerife dedutivo.

— Eu não havia pensado nisso. Seria muita idiotice ele aparecer na minha frente com o meu dinheiro e ainda com o timbre do meu banco...

— Então, alguém o roubou e deve ter passado o dinheiro para Timoty Jacob e ele não sabia e morreu de graça! Alguém armou para cima dele, pois sabia que fatalmente o senhor o mataria!

— Então, ele morreu de graça, aquele trapaceiro! Mas como eu poderia imaginar isso? Alguém rouba meus dólares... e daí a poucos minutos Jacob aparece com meu dinheiro! Foi curto o tempo entre o roubo e minha ida até ao saloon.

— Então...

— Então, quem roubou meu dinheiro logo se encontrou com ele! Ou o pagou por algum serviço ou algum empréstimo. Eu sei que ele também me fazia concorrência.

— Pode ser. Creio que se fosse Jacob, ele não iria ser tão infantil assim a ponto de mostrar seu próprio dinheiro, ainda mais daquela maneira.

Lucas Durand
Enviado por Lucas Durand em 22/02/2007
Reeditado em 23/12/2009
Código do texto: T389187
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.