Sie Ihre

Era noite. Uma noite daquelas em que se conversa com o vento.

Calça comprida e cabelos castanhos bagunçados de maneira em que parece que foram bagunçados daquela forma propositalmente, belo, até excitante de certa forma. Pra começar, jornais velhos, notícias políticas de semana passada não satisfaziam, o tempo se arrastava, o sono se ausentara de vez, parece que todos mantinham certa distância.

Uma xícara de café para complementar o cenário. O porta-retrato, as cinzas, o dicionário alemão, o pingente, o desenho rabiscado durante a aula, e os segredos escritos ali, agora já não escaparia. Pegou as folhas, leu, bagunçou ainda mais os cabelos, a música dizia "Don't you cry tonight" quase ignorada, bastou a caneta para o sentimentalismo tomar conta. Clichê não era o bastante para ela, mas não havia mais juízo.

Implorou com a música "Don't let it burn, don't let it fade..." não era o bastante, "Do you have to let it linger?" questionava aos deuses, sem resposta, pobre coitada. Continuou ali, agora mais perto do rádio aos berros com a garrafa de vinho tinto que havia sido aberta a meses achada no canto da geladeira, sem fome, sem orgulho, sem razão.

Já era quase de manhã e o rádio ainda tocava, o café frio estava, os papéis cheios de meias palavras, a garrafa vazia no chão do banheiro, ao seu lado. Ali ficou, jogada no chão, acompanhada pelo frasco também tombado, deixando escapar os comprimidos.

Mas não morreu, longe disso, só se condenou e jamais perdoou pelo ato por dias, até ele lhe dizer "Mulher, quero te ver agora".