a solidão de nossos dias
resolvo sair para tomar um café na esquina
uma desculpa para respirar o ar de além das paredes do apartamento
parece que as noites de domingo são sempre frias aqui
caminho pelas ruas cheias de pessoas que saem da missa
passam por mim falando rápido demais para que eu entenda
eu sigo no contra fluxo da multidão
sozinho
sou um estrangeiro solitário em um lugar distante de casa
de uma casa que nem sei mais se é minha
os casacos deixam as pessoas parecendo gordas
eu penso comigo que estou em um quadro do botero
resolvo cruzar a praça
não me sinto bem na multidão
chego a um bar
estranhamente para mim
me olham com suspeita quando me aproximo
resolvo seguir adiante até uma padaria
há um caminhão de frigorífico no caminho
com uma vaca e um porco sorridentes pintados
eu rio com eles da desgraça
na padaria
um tinto duplo e um palito de queso con arequipe
alguns velhos tomam cerveja e aguardente
e dividem sua atenção
entre o jogo de futebol e a bunda das moças
eu rio pensando se fossem netas de algum deles
o café é mais forte que em outros lugares
tentarei me lembrar de voltar aqui
algumas pessoas deixam flores numa imagem da virgem
mais tarde essa imagem estará ainda na praça
solitária
quando chover na madrugada
sinto-me extremamente só
longe de qualquer família
de qualquer amigo
de qualquer sorriso
de mim
dos inimigos
até eles apaziguariam o que sinto
se bogotá é a cidade mais fria da colômbia
como dizem
medellin é a mais solitária