O beijo das flores
A aurora acaricia a superfície terrestre com seus róseos dedos de cetim, meu corpo, matizado de favos de mel, estremece enquanto o perfume das flores penetra em cada poro de meu ser.
No céu, um arco-íris perfeito estende-se, porém ele é apenas o opaco reflexo de meu secreto jardim colorido com minhas paixões a muito perdidas.
Essa vista nunca me cansaria, apesar de ser mera ilusão, observá-la tem sido a única coisa que tenho feito nos últimos tempos, em que estive preso nesse mundo desencantado, nesse tempo nada mudou, nem as flores, nem eu. Limitados que estamos a essa espécie de bolha amaldiçoada da qual precisaríamos de ajuda para libertar-nos.
Mas eu sabia que isso jamais aconteceria, somente um ser, durante todo esse tempo, aproximou-se de meu jardim proibido, mas tal criatura não foi capaz de adentrar o vau que me limita a esse lugar.
Ele passou a centímetros de mim, seu perfume de canela preencheu meu olfato como uma caricia proibida, mas fora só, eu nunca mais o veria, quiçá estivesse morto.
A realidade era que eu não conseguiria escapar, era impossível livrar-me de meus místicos grilhões...
As asas as minhas costas ansiavam o espaço, roçar o infinito lago celeste e conhecer novas flores e beijá-las com todo o amor que tenho em meu peito, num enlace magico de amantes improváveis.
Meu pecado foi justamente esse, desejar novos amores, cobiçar novas beldades cheirosas nas quais tocas minha boca impura.
E foi num beijo doce de rosa rosada que eu me perdi, a bela desfez-se diante de meus olhos enquanto meu pequeno corpo era capturado por mãos enormes e humanas, meu coração batia frenético em meu peito, desesperado busquei voar para longe de meu cruel Golias, mas eu não era David. Fui capturado e arremessado em uma jaula da qual jamais escaparia, mesmo que meu coração em pedaços , sangrasse em cada cantiga que escapasse de meu, agora amaldiçoado, bico, que já não poderia Beija-flores.