.-Envelhecer dói!

Acordo com o som do celular ecoando de forma ruidosa próximo ao meu ouvido.Empurro com os pés o edredom, me estico inteira na cama, acordo cada músculo, só então sento-me e me espreguiço para sair.Ainda sonolenta, vou até o banheiro e descubro que ele está lá:Sentado, com as mãos segurando a cabeça, ainda meio dormindo está meu marido, encosto a porta que eu havia aberto e me dirijo a cozinha para preparar o café.Ouço o barulho da descarga seguido pelo da torneira e, momentos depois ele chega onde estou,Abaixa-se, tenta colocar as mãos nos pés, depois estica os braços vagarosamente...solta um gemido involuntário e um xingamento:

-Nossa!!!Que dor nas costas!!!

Respondo:

-Envelhecer dói!

É dói muito, faz dias que estou com essa dor e não passa.

Ele reclama mais um pouco, porém sequer o ouço, entro no banheiro.Tomo um banho (está calor!).Quando saio já pronta, ele está à minha espera com o capacete nas mãos.

Subo com ele na moto, sou deixada em meu serviço.

O dia passa lentamente e durante ele, eu reflito:O que é envelhecer?

Ganhar experiência.Saber dar respostas num momento em que a vida deixa de indagar...?

O que fazer com essa experiência num momento da vida em que o que se resta é apenas ela?

O corpo já cansado, teima em se calar.Não demonstra vigor, não saltita, os ossos rangem, a memória falha, o cabelo desbota.

Porque então saber tanto, lembrar tanto?

Porque buscar na memória o doce sabor da juventude, o odor das tardes de primavera, o calor gostoso do verão?Se o vigor do corpo só nos deixa frustrados!

Só mais um dia...

Esse é só mais um dia, onde a pele quente pelas noites de verão abriga uma alma fria e cinza como uma manhã invernal.

Wal Ispala
Enviado por Wal Ispala em 12/09/2012
Reeditado em 30/11/2012
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