Quando não se gosta
De dentro carro, ao lado do marido via a multidão atrás, ficando longe... da escadaria da igreja a mãe lhe guardava no peito num gesto com os braços... os acenos, o Adeus,
Até de um tempo, não era mais solteira...era uma mulher casada...que medo
Não sabia o que era isso...
Suava. O marido dirigindo, um homem de bem, correto, trabalhador....”é disso que você precisa, Mariana”. Ela não se fazia de mal agradecida....realmente muitas mulheres na cidade o queria...homem Direito, decente, pra casar, “tive sorte”. Afirma pra si mesmo...o tipo
Dele é raro nesses dias...só tem aproveitador...”imagina sua casa bem arrumada”.
Ela preocupada, destino São José do campos, dois anos
De namoro , o casamento agora, a dúvida, o medo de se entregar...
Nunca ficou nua para esse homem...com o Marildo não...só não perdeu
A virgindade, mas fez de tudo, adorava ficar nua na sua cama, na fazenda
Do pai, passar as tardes dentro do rio. E beijar e beijar e abraçar...
Alfredo soube esperar, teve a paciência de esperar dois anos sem nem
Sequer tocar seu sexo, seus seios, queria guardar, esperar...
Queria o amor limpo, transparente, adquirido. Sua nudez sagrada teria
Lugar na espera nos sonhos, namoro silencioso, sem barulho, somente alguns
Beijos. Ele amava, ela...o beijo não lhe contava nada, ou já contava tudo?
Os dois esperando o momento...ele sorrindo levemente pelos cantos
Da boca, ela nervosa, “estou casada, Meu Deus”, as mãos trêmulas,
O amargo na boca, a vontade de chorar, saudade de casa, de se arrepender...
- ta nervosa?
- Não...
- Parece
- Impressão sua, querido
Voltou a voar nos pensamentos, lembrou de quando mais moça, a paixão de sua vida,
Marildo, que sumiu e nunca mais apareceu...a raiva que tinha da mãe de obrigar
A casar com Roberto, que não tem a paixão, não tem o calafrio,
A dor na barriga, a vontade de pular no colo, que tinha pelo outro, que só de olhar já ficava tonta...dois anos de tédio. Agora o casamento, o rosto fingido, a mentira,
Relação apagada....a lua de mel, não era isso que esperava,
Queria mais, queria marildo, que fugiu quando a coisa ficou preta, quando não
Aguentou a pressão da familia dela. “covarde!”. “Aquele miserável!”...
No fundo tinha mais raiva de roberto do que do outro que foi embora...
Pelo menos foi sincero...impossível que ele não perceba minha indiferença...
- O hotel é lindo
- Bacana
- Ta melhor?
- De quê?
- Do nervoso...
“sem graça ” pensou
- estou bem querido...
a estrada longa, quatro horas de viagem, uma chuva fina, o limpador empurrando
o excesso, o bocejo, a vontade de dormir, lembrou o rosto de Marildo. Como
seria se fosse ele comigo, como já estava nos beijando, nos tocando, talvez
desceríamos em um desses descampados, talvez uma árvores, uma praia de rio
no caminho. Qualquer lugar já era hora...eu me entregando, querendo ele dentro
de mim...só de pensar...”que ódio daquele desgraçado”