FAROESTE - Cap -3
Sob pseudönimo de J.G. Hunter.
Capítulo Terceiro
“Sem saída”
Helen MacGreen acenou a Simon uma breve despedida. Ele galopou para Santa Fé numa bifurcação da estrada.
Instantes, depois, MacGreen, voltou ao rancho de Ben. Escondeu seu cavalo entre as árvores. Então, correu até à janela e direto ao quarto onde estava há poucos momentos antes com Peter Simon. Parou no meio do quarto. Alguém olhava para ela com um sorriso maroto e balançava em uma das mãos um maço de notas de dólares.
— Era este o motivo de seu mal-estar súbito, senhorita? — perguntou Peter Simon, encostado num móvel ao lado da cama.
MacGreen olhou para ele sem saber o que dizer. Desgraçado — pensou ela. Tentou disseminar a decepção ao vê-lo e sorriu levemente.
— Vejo que é bem mais esperto do que eu imaginava, querido! Mas estes dólares são meus, foram roubados de meu pai e, portanto, não lhe pertence. Não queria lhe causar nenhum embaraço.
— Entendo — resmungou Peter Simon com deboche. — E, por isso voltou! Iria ficar com todo o dinheiro e eu a ver navios!
— Iria pagar minhas dívidas, senhor Simon e entregar Ben ao xerife. Afinal, meu rancho deve cinqüenta mil dólares naquele banco.
— Bem, como a senhorita não confiou em mim, acho que não tenho nenhuma razão para fazer o mesmo. Pelo que estou entendendo a senhorita nunca iria mesmo cumprir sua promessa.
— Não somos matrimonialmente unidos, senhor Simon, portanto, não tenho satisfações a lhe dar sobre a minha vida. Até agora o senhor ainda não resolveu nada para mim. Ainda, só promessa.
— Se o problema é esse, eu tenho cinqüenta mil dólares aqui, marque nosso casamento e resolveremos todos os nossos problemas, certo!
— Isso é chantagem!
— Eu viveria tranqüilamente com todo esse dinheiro por aí.
— Seu canalha! — e tentou esbofeteá-lo. Simon desfechou-lhe um potente soco pelo rosto que a fez ir ao chão.
— Ainda não somos matrimonialmente unidos, senhorita e, portanto, é uma estranha para mim — argumentou Simon rispidamente. — Creio que não preciso mais daquele seu maldito rancho e nem de você e nem de Chambord agora — e enrolou aleatoriamente todo o dinheiro em um pano e saiu. Ela ficou estendida pelo chão atordoada. Repartiu, então, o dinheiro em cada lado do seu alforje e saiu rumo à estrada.
O xerife, dois auxiliares seus e Marlin Chambord aproximavam-se. Cercado por eles, George Benedict, sendo puxado por um dos auxiliares do xerife. Peter Simon não havia como sair deles sem ser visto. Tentou, então, ficar o mais calmo que pôde.
— O que faz por esses lados, senhor Simon — disse o xerife. — Por acaso, o senhor e George Benedict... estão juntos nisto?
Peter Simon não entendeu àquela pergunta do xerife. Não tinha a menor idéia do que realmente estava acontecendo. Mas boa coisa não seria.
— Desça senhor Simon. Temos que conversar — foi logo dizendo Chambord sorrindo maliciosamente e sacando sua arma.
— Posso saber o que está acontecendo! — inquiriu Simon rezando para que ninguém revistasse seu alforje.
— Sumiram cinqüenta mil dólares daquele trem, Ben queria depositá-los em meu banco — rosnou Chambord, vingativo e encarando George Benedict.
— Mentira! O senhor Chambord esta mentindo! Eu fiquei no meu rancho o dia todo e ele quer jogar a culpa em mim! — gritou Ben, apavorado.
— Quando aconteceu isso? Eu e Ben estávamos juntos até agora mesmo quando ele resolveu ir à cidade. Eu e o senhor Chambord nos desentendemos e Ben me deu guarida e estou indo para o rancho da senhorita MacGreen agora. Obrigado, senhor Benedict, por hospedar-me uns dias.
Ben não entendia nada que Peter Simon acabava de dizer. Mesmo assim, agradeceu-lhe, mentalmente. Se pudesse lhe daria um beijo na boca!
— Esta vendo, xerife! Eu disse que era inocente! Não sei por que o senhor Chambord inventou esta história. Deve ser por que perdeu para mim na noite passada — emendou Benedict reforçando a história de Simon.
— Por que não entra e revira tudo lá dentro, xerife — sugeriu Simon vendo de relance a senhorita MacGreen escondida por entre os arbustos. Ela era realmente muito esperta — pensou.
George Benedict tremeu em cima de seu cavalo.
— Desça, por favor, senhor Simon! — ordenou Chambord entendendo que alguma coisa estava errada. — De todo jeito iríamos mesmo verificar tudo. E se estiver mentindo como sei que está eu juro que o colocarei em uma forca!
Simon obedeceu vagarosamente. Acendeu um cigarro e deu algumas tragadas como se não se importasse com o que Chambord dizia. Num gesto sorrateiro, encostou a ponta do cigarro na virilha do cavalo. O animal saiu em disparada em direção onde estava MacGreen. Depois se encontraria com ela — MacGreen riu de sua sorte.
— Esperem um momento! Vou pegar meu cavalo — disse Simon.
— Quieto senhor Simon! — ordenou Chambord prevendo uma fuga iminente dele — O senhor é um suspeito. Vamos para a cabana!
Lentamente, Simon caminhou até a cabana com a comitiva do xerife.
— Esta cometendo um grande erro, senhor Chambord — disse Simon instigando-o —, e o senhor também xerife em acreditar nele.
— Veremos! — disse o xerife revirando tudo pela frente. Os auxiliares do xerife faziam o mesmo sob os olhares inquietantes de George Benedict.
— Esperem! — gritou Chambord, como se tivesse uma idéia brilhante. — O cavalo dele! Peguem o cavalo dele! Foi muito esperto, senhor Simon!
Um dos auxiliares do xerife foi até às árvores e o trouxe de volta.
— Revistem os alforjes! — gritou eufórico Chambord, não se contendo de satisfação por sua idéia brilhante. Olhava mortalmente para Simon.
Peter Simon continuou tranqüilo. Acendeu mais um cigarro.
— Não há nada aqui, senhor Chambord! Está vazio! — disse o auxiliar do xerife virando o alforje de boca para baixo — Chambord não se continha de tanta raiva e decepção.
— Bem, senhor Chambord — disse resignado o xerife —, acho que não há fundamentos em sua denúncia. Não há nada que incrimine o senhor Ben. É a palavra do senhor contra a dele! E ele tem um bom álibi e uma testemunha.
— Os dois estão mentindo xerife! — gritou Chambord indignado — Isto é uma farsa! Uma grande farsa!
— Como aconteceu tudo isso, senhor Chambord? — indagou Simon.
— Ele veio até meu banco com chantagens e disse-me que se lhe desse crédito ele me diria com quem estavam os cinqüenta mil dólares — mentiu Chambord.
— Ora, senhor Chambord, quem possui cinqüenta mil dólares, não iria guardá-los numa cabana caindo aos pedaços assim. Esta ficando maluco — brincou Simon.
— Eu não estou maluco, senhor Simon. Ele esteve em meu banco e me fez chantagens. Vocês dois estão mentindo! — grunhiu Chambord.
— Não está querendo, por acaso, justificar suas contas em seu banco desviando as atenções para cima de um inocente, não é mesmo, senhor Chambord — tripudiou Peter Simon tentando calá-lo de vez.
— O que quer dizer com isto, senhor Simon? Está querendo... — tentou falar Chambord.
— Às vezes, pode estar havendo problemas em sua contabilidade e o senhor esta nervoso tentando descontar em alguém. Porque não penhora os ranchos de quem está inadimplente com o senhor? Só por que perdeu nas cartas para Ben não significa que ele vai quebrar seu banco — brincou Simon novamente. Os auxiliares do xerife segurassem um riso.
— Isso não vai ficar assim, senhor Simon. Vamos embora, xerife! — disse Chambord, indignado, seguido pelo xerife e seus auxiliares.
— Não sei por que razão o senhor fez isso, senhor Simon, mas eu lhe agradeço — falou Ben, aliviado, quando já estavam a sós.
— Eu sei que o senhor não teria coragem de fazer algo assim, senhor Bem. Mas por via das dúvidas fica devendo a mim um favor!
— O que o senhor faz por aqui, senhor Simon? — perguntou Ben, visto que seu dinheiro não havia sido encontrado.
— Eu passava pela estrada e vi um cavaleiro sair a galope de sua cabana e parei por um momento imaginando ser talvez um bandoleiro, mas acho que tudo está em ordem, não é? — mentiu Simon.
— Então, foi isso...
— Isso o quê! Alguma coisa errada?
— Não, nada de importância! Não viu mesmo quem era!
— Eu estava um pouco longe, senhor Ben. Até assustei-me ao vê-lo sair a galope. Que história é esta de cinqüenta mil dólares?
— Isso é invenção de Chambord. Eu sei de algumas coisas erradas naquele banco e disse a ele. Ele ficou magoado e quis se vingar.
— Que tipo de coisas? — indagou Simon fingindo-se de sonso.
— As mesmas que o senhor sabe muito bem e as mesmas que o senhor disse para a senhorita MacGreen. Pode ser assim!
— O que o senhor quer dizer exatamente, senhor Ben? Não gosto de suas insinuações! Acabei de salvar sua vida e o senhor...
— Ora, senhor Simon, sabe muito bem do que estamos falando! Meus cinqüenta mil dólares sumiram e o senhor estava por perto. Ouvi o que disse à senhorita MacGreen. Eu estava do lado de fora da casa dela, ouvi tudo. O senhor sabe muitas coisas sobre Chambord, talvez, por isto, salvou minha pele.
— Como conseguiu esse dinheiro? Sumiram cinqüenta mil dólares daquele trem. Eu poderia entregá-lo ao xerife ou prefere me dizer a verdade!
*****
Na volta para a cidade, Chambord interrogou novamente o xerife.
— Xerife, eles estão mentindo — disse ainda furioso.
— Não temos provas e nada podemos fazer — respondeu o xerife atrás de seus auxiliares conversando com Chambord.
— Eu dei cinqüenta mil dólares àquele idiota, xerife, ele tentava-me chantagear. Então, eu pensei que poderia pô-lo na cadeia e culpá-lo pelo roubo no trem. Eu queria destruí-lo para sempre! Perdi meu tempo e meu dinheiro. Eu só não entendo o que Simon estava fazendo no rancho dele.
— Isso eu não sei também. o senhor Ben tem o testemunho de Simon de que ambos estavam juntos, portanto — resmungou o xerife, já cansado das ponderações de Chambord.
— Eu estou lhe dizendo a verdade, xerife.
— Qual o idiota que dá a alguém cinqüenta mil dólares...
— O senhor demorou a pegá-lo, xerife, deu tempo para ele esconder o dinheiro em algum lugar — insistiu Chambord inconformado.
— Porque Simon o abandonou senhor Chambord? Talvez, Simon, esteja se vingando. Já pensou nisso?
— É o que parece. Mas isto é assunto meu!
— Foi muito inocente...
— Tentei preparar uma boa armadilha para Ben — Chambord parou o cavalo.
— O que foi, senhor Chambord!?— perguntou surpreso o xerife.
— Vamos voltar! Eles estão mentindo! Devem ter escondido o dinheiro em outro lugar e os pegaremos de surpresa!
— Quem o senhor acha que assaltou aquele trem, senhor Ben? — Já que estamos falando de “negócios”.
— Bem, vamos para o terreno das suposições, senhor Simon. Não quero indispor com ninguém e até pensava em ir embora desta cidade.
— Como queira...
— Eu estava na estação, vi o tesoureiro do banco conversando com dois homens. Depois, eles entraram no trem e o tesoureiro seguiu de volta rumo ao banco. Os dois homens eu não conheço, mas fiquei sabendo que o tesoureiro não havia ido trabalhar naquela tarde.
— Interessante isto!
— Qual é o seu interesse nisso tudo, senhor Simon?
— Há um bom dinheiro por aí, amigo! Eu pretendo recuperá-lo.
— Para Chambord?
— Para mim, é claro!
— Não podemos juntar nossas forças!
— Em que pode ajudar senhor Ben?
— Meio a meio? Eu estou precisando muito de alguns dólares...
— Se tiver informações valiosas...
— Algumas pessoas comentam pela cidade que Chambord não é muito lícito em seus negócios, mas ninguém consegue provar nada. O senhor trabalha para Chambord e deve saber muito bem disso. É meio difícil passar alguma informação para o senhor, não acha?
— Bom então, eu vou até o xerife e direi a ele que o senhor tinha mesmo os cinqüenta mil dólares e ele o ligará ao assalto do trem.
— Se complicará também. Como sabe disso?
— Vim em busca deles, mas eles sumiram!
— Como, sumiram!? Estava muito bem guardado.
— Alguém os pegou enquanto conversávamos com o xerife e eu sei quem fez isto, portanto, sei com quem está e é só apanhá-los. Mesmo depois de livrá-lo de uma forca ainda acha que não pode confiar em mim — disse Simon com certo cinismo.
— Sabe muita coisa para um simples capataz, senhor Simon. O que pretende fazer se reavê-los? Dividiremos!
— Ainda não me deu subsídios para isto.
— Quando nós chegamos vi a senhorita MacGreen escondida entre as árvores e o senhor tocou seu cavalo rumo a ela... nós dois sabemos com quem está o dinheiro. Agora, se nós juntarmos nossas forças, poderemos descobrir os outros cinqüenta mil dólares do trem e eu sei de alguma coisa, mas terá que ser meio a meio! — propôs Ben.
—Temos visitas — sussurrou Simon.
— Não estou vendo...
— Eles estão chegando a pé por entre as árvores e pensam em nos surpreender! Vamos entrar. Quando eu lhe der um sinal começaremos a conversar. Tem alguma coisa para beber nesta cabana...
— Uísque.
— Estão aproximando... converse normalmente. Vamos deixar o senhor Chambord em maus lençóis. Agora!
— Chambord não é um homem confiável, senhor Simon — disse Ben próximo à janela —, ele vive fazendo trapaças por aí.
— Eu sei disto, senhor Ben e dizem que ele empresta dinheiro para os seus clientes e depois os segue e os ataca. Por isso, o banco dele mesmo cheio de maus pagadores nunca vai à bancarrota. Mas eu vou descobrir isto! Já mandei até mesmo uma carta às autoridades em Washington. Terei resposta daqui a poucos dias — respondeu Simon.
— Por isso, deixou de trabalhar com ele?
— Sim! Ele é um lobo em pele de cordeiro! Esta cidade precisa saber quem ele é — comentou Simon, próximo à janela também.
— Por que não fazemos o seguinte: vamos procurar às autoridades federais e expor tudo isso a eles. Ou, então, pedir uma reunião com todos na cidade e dizer isto a todos, convocaremos os rancheiros e penduraremos Chambord em uma forca. Aquele miserável!
— E se o xerife estiver dando cobertura a Chambord — argumentou novamente Simon.
— Não creio! O xerife é um homem honrado. Acredito que esteja sendo manipulado por Chambord.
— E esta caindo como um patinho e pensa que Chambord é decente.
Do lado de fora da cabana Chambord ouvia toda àquela conversa. Percebeu que o xerife se aproximava lentamente às suas costas, então, sacou seu revólver e fez um disparo para dentro da casa. Simon já previa tal atitude e revidou.
— Eles estão atirando em nós, xerife! — gritou um dos auxiliares.
Iniciou-se um tiroteio.
— Rendam-se! Aqui é o xerife!
— Por que esta atirando em nós, xerife! — berrou Simon.
— Vocês começaram! — gritou o xerife.
— Negativo! Alguém atirou em nós primeiro! Quem estava perto da janela? — perguntou Simon.
— Chambord! O senhor Chambord! — respondeu o xerife.
— Ben preparava-se para sacar, xerife! — defendeu-se Chambord.
— Mentira! Ninguém estava sacando arma alguma, xerife. O que há senhor Chambord, está com medo da verdade? — instigou Simon.
— Para o inferno com suas opiniões! O senhor esta dando guarida a um perdulário e chantagista — gritou Chambord. — Vamos revistar tudo ai!
— Permitiremos que somente o xerife faça isso! — disse Simon.
— Vou entrar para conversarmos, senhor Simon! Não atire! — gritou o xerife. Nesse instante, inocentemente Ben chegou à janela. Cai para trás com um tiro dado por Chambord.
— Parem de atirar! — gritou o xerife, não tendo o controle da situação.
— Ele iria atirar em mim, xerife! — mentiu Chambord, satisfeito por liquidar sua testemunha.
— Esta com medo, senhor Chambord! — cutucou Simon, novamente.
O xerife caminhou para a cabana. Chambord ficou a sós com os dois auxiliares do xerife.
— Dois mil dólares para cada um para ver Peter Simon morto!
— Dois mil dólares! — exclamou um deles.
— Não pode ser agora, senhor Chambord... o xerife está por perto.
— Façam o serviço direito — pediu Chambord.
— Estou entrando — disse o xerife com as mãos levantadas.
— Entre, xerife! — ordenou Simon. — Chambord atirou em Ben para que ele não falasse a verdade. Está morto!
— O que está acontecendo? — indagou o xerife apreensivo.
— É uma longa história, xerife. Sente-se — pediu Simon.
Depois de ouvi-lo rapidamente o xerife levantou-se e lhe disse:
— Vou averiguar isso! Mas espero que tenha razão, senão, ele vai colocar toda a cidade contra o senhor e contra mim — quando chegou do lado do fora, disse a Chambord:
— Senhor Chambord, eu terei que investigar a fundo o que me foi dito.
— Isto é uma afronta! Sou um homem respeitado nesta cidade, e...
— E de agora em diante o senhor está sob investigação até que se prove o contrário, certo! E, por favor, deixe o senhor Simon em paz até que eu verifique tudo. Vamos embora! — ordenou o xerife.
— Isso não vai ficar assim, senhor Simon — resmungou Chambord.
— Espero que não... — retrucou Simon montando em seu cavalo rumo à estrada. Os auxiliares do xerife cuidaram do cadáver.