um dia pra se lembrar

Esperneava, levava cocorote. E gritava alto, e pedia:

“Quero mais um pedaço”....menino nojento! Olhudo! ... dá

logo, senão agente morre com esse barulho...”toma, troço”

e mais cascudo. Reclama o pai olhando com ódio. Pegava o pedaço

e sentava na porta da rua, comendo, com a pança grande...

o pai o saltava quando saia pra rua...não olhava. O menino

não sabia o que estava acontecendo. So queria mais um

pedaço do bolo...seu pai voltava só a noite, passaria o dia

todo com a mãe, que não saia do quarto, deitada, sem

ânimo pra nada, enfezada com o pai, beijou outra, na boca

assim ficou sabendo, alguém contou pra mãe,

o pai nega, diz que é mentira, todo dia essa briga, e

a mãe desconsolada ....”o pai vai embora, mãe? “

“vai com essa boca pra lá” Quem te falou isso?

saia, sem graça, não gostava de levar esporro...

ia pra frente da casa...gostava da rua, da varanda, ouvir o vento,

O barulho do caminhão de lixo, os pedreiros da casa de dona

Silvana, cobrindo a casa com novo telhado, a ladeira que subia

Até o colégio da ingreja, olhava e via longe as pessoas que

Passavam, possivelmente indo pra feira...

olhava o céu azul, o avião ajato que deixava outra nuvem

bem comprida, fascinava, amava o céu, o pai e a mãe...queria

tirar ela do quarto, vê-la de novo alegre, rindo das besteiras

do pai como antigamente, agora não, presa, jogada na cama,

o pai fez caca, fez nojeira com ela, ficou sabendo, a moça contou

pra mãe, . O pai sumiu uns dias, levou tudo, e voltou triste,

e ela mais triste ainda... a casa vazia, não sabia...

no quintal entrava na casa de ferramenta, mexia com

alicate, a chave de fenda, fingia ser um eletricista,

acendia a vida um pouco com imaginação...sumia pra

casa da avó na fazenda mangerona, pra dentro do rio,

dos pulos na pedra, na cachoeira, de dona zefa, a

mulher mais gorda que já tinha visto....de seu inácio

sem dentes mascando fumo, contando mentira....

entrava na trilha que ia até o santuário de santa

rosa, andava pela capoeira, no meio das varas,

colhia forquilha, pensava no batoque, nos passarinhos

caindo na balaça já morto na pedrada....sorria com os pensamentos....

os Olhos e ia embora, voltava mais tarde, quando a mãe

gritava para o banho, quase de noite, os barulhos da cigarra. Oba!

saiu do quarto...olho de peixe, ainda caído, chora no tanque, na pia de prato, na entrada

do banheiro, as vezes alto...sente dó da mãe, sente vontade

de abraçar, mas é braba, dá medo de conversar, vai pra

sala e adormece depois do jantar, olhando as telhas do teto.

Acordou já quase meia noite, foi tomar água, no quarto, viu

o pai abraçando a mãe, acreditou que as coisas estavam se ajeitando...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 05/09/2012
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