COMO FUI PARAR NO BUTÃO
(Flavia Costa)
 
Fui criado na França, durante os anos 40, década de guerras e das primeiras e fatídicas experiências nucleares. Assim como tais acontecimentos, eu não era bem visto pela sociedade e minha presença causava efeitos tão explosivos quanto uma bomba atômica, tamanho era o rebuliço. Todos me consideravam ousado demais e, por mais que tentasse, nenhuma mocinha francesa queria aparecer comigo. A única mulher a me aceitar foi uma stripper da época, o que piorou ainda mais a minha reputação. Depois que fotos dela comigo foram divulgadas fui proibido de entrar em vários países. Diziam que eu era muito indecente e simplesmente me barravam.

As coisas começaram a mudar na década de 50 quando apareci em um filme com a Brigite Bardot, estrela da época. A partir daí, as pessoas começaram a me ver de uma forma menos repulsiva e preconceituosa, então ganhei notoriedade e viajei o mundo. No Brasil cativei vedetes e com o tempo várias mocinhas.

Na década de 60 estive presente em 007 Contra o Satânico Dr. No, e fiz história. Após esse filme, com minha imagem já associada ao cinema e com as mulheres como inspiração, decidi deixá-las à vontade: a todas dizia que me usassem como quisessem, eu estava nas mãos delas. Na Europa esse meu novo modo de ser fez bastante sucesso, mas não agradou muito as brasileiras.

Como o Brasil era um país de belas praias e mulheres, que inclusive adoravam estar comigo, voltei ao tradicional e resolvi fincar lá minhas raízes. Praticamente me mudei para o país continente.

Nos anos 70 com ajuda de uma linda modelo brasileira eliminei alguns excessos no visual, tornando-me mais norte-sul e menos leste-oeste. Juntos, eu e a modelo fomos capa de uma revista brasileira que fez sucesso além das fronteiras tupiniquins. A foto era ousada para a época, e em todo o mundo havia mulheres ávidas por mim.

Na década de 80, já naturalizado brasileiro e com uma história de passagens e estadias por diversas regiões resolvi viver entre montanhas. Então me recolhi no Butão.

A minha ida para o Butão trouxe felicidade e notoriedade a muitas pessoas. E, incrivelmente, o meu recolhimento entre as montanhas, no Butão, tornou-me ainda mais popular, principalmente entre as garotas cariocas. Decidi aceitar a realidade: eu era um sucesso, não importava onde estivesse.

Eu ainda me recolho no Butão, mas também me faço presente em outras regiões com algumas mudanças no visual. Eu diria que essas alterações funcionam como disfarces quando não estou no Butão. Dependendo do lugar e do disfarce possuo sobrenomes diferentes, mas geralmente sou conhecido apenas pelo meu primeiro nome: Biquíni. Entretanto, lá, no Butão, chamam-me de Fio Dental.

Agora você conhece a minha história e espero que se algum dia me vir por aí, no Butão, recorde-se do meu relato e sorria ao lembrar-se de como fui parar no Butão.