"A GARUPONA" Conto de: Flávio Cavalcante

A GARUPONA

Conto de:

Flávio Cavalcante

Histórias como esta é difícil de acreditar se alguém contar. A maioria das histórias contadas pelas pessoas tem opiniões diversificadas e maior parte das pessoas fica igual a São Tomé só acredita vendo e apalpando. Aqui relato a história de uma mulher batalhadora, que vivia no trampo diário para sustentar uma casa cheia de filhos. O marido estava desempregado e por isso que ela teve que mergulhar profundamente em uma batalha de ralação na tentativa de suprir suas necessidades e da sua família sem se importar com o tipo de trabalho e o cansaço que tinha de enfrentar no seu dia a dia.

Estamos falando de Aparecida. Quem a conheceu sabe a guerreira que sempre foi. A garupona assim como ela era chamada pelos colegas de seu âmbito de trabalho, pelo fato de ter uma traseira avantajada á ponto de chamar a atenção de todos. Muitas vezes a Aparecida era obrigada a ouvir chacotas de engraçadinhos desocupados que na intensão de vê-la furiosa dizia que aquilo era uma bunda criada em cativeiro. Outros caíam em gargalhadas dizendo que era uma anomalia da natureza, que a bunda dela mais parecia uma catedral metropolitana ou quem sabe não seria uma réplica da basílica de São Pedro. Falavam até que o ginecologista evitava fazer seus exames normais, porque tinha medo que ao abrir as pernas ele fosse engolido. Tipo de brincadeiras sem graça que qualquer pessoa de bom senso já iria partir para agressão no meio de tanta chacota. Mas a Aparecida levava tudo numa boa e apenas morria de ri quando os engraçadinhos de plantão resolviam se divertir ás suas custas.

E assim, a moça levava sua vida sempre muito sorridente. A alegria de estar com aquela turma superava suas necessidades de batalha. Ela via ali uma forma de dissipar suas agruras. Um fardo que era difícil de carregar, mas amenizado pela companhia de seus colegas que nem imaginara o sufoco que ela passava para batalhar o sustento de sua família.

Num determinado início de tarde ao sair do trabalho, aparecida tomou o seu banho no banheiro da empresa e saiu para pegar a sua condução com algumas bolsas de compras para levar para alimentar os filhos que com certeza estavam esperando para fazer sua primeira refeição do dia. Assim que aparecida entrou no ônibus foi passando pela catraca para pagar a sua passagem, mas, como suas mãos estavam ocupadas com bolsas de compras, realmente ficou difícil de ela conseguir passar até por causa do tamanho de seu quadril que também dificultou a sua passagem. O motorista vendo aquela dificuldade toda da mulher tentar ultrapassar aquela roleta de qualquer forma, resolveu ele ser solidário e abrir a porta traseira para a mulher entrar por trás.

E assim foi feito. Aparecida educadamente desceu do ônibus e entrou por trás, causando algumas risadinhas de canto de boca em alguns passageiros que estavam confortavelmente sentados perto da cobradora. Ao pagar a passagem ela ouviu em cochicho alguém falar do tamanho de sua garupa. Ela se fez de desentendida e voltou procurando um lugar para sentar. Não bastou muito para as gracinhas chegarem á um ponto de incômodo e as falas já não estavam mais em sussurros e sim em bom tom á ponto de todos os passageiros olharem para ela. Mesmo assim a Aparecida continuava sentada olhando pela janela e se fazia que não era com ela aquela provocação.

O ônibus seguiu viagem e em um determinado ponto entrou um cidadão mal encarado e Cida não demorou muito para percebera que aquele elemento não era flor que se cheirasse. Pegou suas bolsas puxou-as para o seu lado e ficou na expectativa pra ver qual era a do carinha que entrou. Não bastou muito tempo para ele anunciar um assalto e todos ficaram agitados repentinamente. O que causou estranheza na cobradora foi que a Aparecida continuou sentada olhando para fora da janela como se nada tivesse acontecendo. O delinquente pegou todo dinheiro do caixa da cobradora e com um revólver á punho ameaçou atirar naquele que fizesse alguma gracinha e que ele não estava brincando. Começou a sessão limpeza dos passageiros que apavorados começou a dar todos os pertences.

Aparecida continuou sentadinha sem dizer uma só palavra olhando sempre em direção para fora do ônibus. A calma da mulher chamou a atenção do bandido que depois que fez um arrastão nos passageiros foi ao encontro de Aparecida.

Como é que é, dona? Não vai levantar essa bundona da cadeira, não? Bora, bora... Passa a grana e encho a sua cara e bala.

Aparecida fitou bem o olhar e percebeu que a arma do bandido era uma arma de brinquedo.

Aé? Você encher a minha cara de bala, moleque? Pois eu vou encher a sua cara de porrada.

E tomada por um ódio inominável, Aparecida pegou suas bolsas cheias comprar pôs em cima da cadeira, pegou o delinquente sentou em cima dele e começou uma sessão de pancadaria. Aparecida bateu muito no moleque e o obrigou a devolver cada centavos que ele roubou dos passageiros além de ir de banco em banco pedir desculpas á cada um passageiro do ônibus. Depois pediu ao motorista para parar o ônibus no próximo posto policial, desceu com o moleque imobilizado e entregou ás autoridades. Esse caso foi comentado no bairro por muito tempo e a Garupona nunca mais foi chamada por este apelido que até então ela dizia que era uma forma carinhosa. Os amigos do trabalho souberam o que ela fez com o assaltante e por causa de sua atitude ficou conhecida como A MULHER DO ÔNIBUS. E até seus amigos ficaram com medo de ousar a brincadeira com a dita mulher, coisa que ela passou a sentir falta de ser chamada carinhosamente de garupona, pois ela achava um charme ter a bunda grande.

FIM

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 01/09/2012
Código do texto: T3860698
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