MARIA JULIA
Billy Brasil – 19-08-2012 – 4,43 hs – Pqi – SBC – SP – domingo.
Cabocla índia, morena cor jambo,
- linda, vivia no mato.
Não Fugia dos animais,
- ou assombração, e sim do homem.
Até os doze anos, vive com sua mãe,
- botavam lenha no saco.
Cedo entenderam como os bezerros da fazenda somem.
Dormiam em camas de bambu,
- como colchão grandes folhas.
Juntas de costas para a outra,
- uma forma prática de defesa.
A mãe morta por cobra.
Nos pés as imensas e doídas bolhas.
Floresta farta,
- olhos cobiçavam na fazenda, a comida na mesa.
Aproxima-se faz relativa amizade,
- é adotada pelo fazendeiro.
Estuda o primário,
- para ler as noticias para a velha senhora.
Registrada sobrenome da fazenda, tinha tiro certeiro.
Sem muita conversa, aprende cozinhar,
- fumava fumo de corda.
Veio ao mundo em 1888,
- mocinha apaixona-se por Paulo.
Caixeiro viajante,
- que andava no Rio-São Paulo ela engravida.
Um filho, a senhora morre,
- vai embora, pra sobreviver faz caldo.
Trabalha em casa de família,
- briga, pragueja isso não é vida.
Nasce o segundo,
- o homem vai embora, fica só na solidão.
O que fazer dois garotos sente falta de amor dói seu coração.
Conhece outro amor,
- dessa vez três, dois e uma menina.
Também seu amor foi embora,
- água na mão, ou na latinha.
Aos treze anos perde a filha,
- leucemia, ficaram os meninos.
Foi tocando a vida,
- não teve mais ninguém, chorava a noite.
Lutou bravamente,
- acidentes, injustiças, e grandes pepinos.
Os filhos casaram,
- chegaram netos, foi quando largou a foice.
Viveu com o caçula,
- vivia fugindo, cidade, não queria arreio.
Aos 98 anos, lúcida e alegre,
- vai serena para o andar de cima.
Cumpriu com valentia,
- o que o mundo cobrou sua sina.
Minha avó sorria,
- me beijava,
- e me chamava de pequeno.