Um dia, talvez - II

Era mais uma dessas tardes de calor, onde a maior vontade que se tem é a de não fazer, mas mesmo assim, ficar atoa nessas condições é agoniante. Eu estava indo pra casa, as ruas estavam vazias, exceto em um bar, onde tinha alguns caras bebendo em plena segunda-feira, não sei bem por que, mas sinto pena dessas pessoas é como se a vida não fizesse sentido mais para eles e o álcool seu único companheiro para ver a vida passar. Foi pensando nisso que cheguei em casa.

As pessoas tem uma mania muito feia de julgar as coisas sem antes querer saber qual é a razão daquilo estar acontecendo, não gosto de recriminar a pessoas, apenas sinto pena. E foi com esse pensamento que percebi que não havia ninguém em casa, o que achei ótimo, gosto desse momento só pra mim, mesmo sabendo que me breve meus pais e minha irmã irão chegar. A primeira coisa que gosto de fazer ao chegar em casa é tomar banho, e assim fiz.

Liguei minha música o mais alto que pude, acho essa a melhor forma de relaxar, após uma manhã cansativa na escola. Escutei uma das portas da casa se abrindo, era meu pai e minha irmã. Sai do banho e fui direto para o meu quarto, deitei na minha cama, quem entrasse naquele momento me veria olhando para o teto, mas na verdade eu estava longe, planejando minhas fugas desse mundo. Foi quando meu pai bateu na porta do meu quarto.

Ele reclamou por eu não ter ido falar com ele e com minha irmã e me chamou para almoçar. Durante o almoço minha irmã falava sobre o seu dia na escola, reclamava de uma menina que não queria brincar com ela, meu pai tentava entender o que acontecia, mas era óbvio, minha irmã é uma criança que chama atenção de todos por onde passa, a outra garota estava com ciúmes dela. Mas eu não iria falar isso assim, é muito mais interessante ver meu pai se esforçando para tentar entender o que esta acontecendo e aconselha-la. Terminei de almoçar e me ofereci para lavar a louça.

Depois de lavar a louça decidi que deveria aproveitar o dia e fui dormir. Sim estava cansada, precisava muito disso. A segunda-feira tem algo relacionado ao cansaço que ainda não descobri, mas não é cansaço físico, mas sim psicológico. Tive um sono agitado, alguns sonhos sem sentido como de costume, até que acordei desanimada devido a uma dor de cabeça insuportável. Tomei um analgésico.

Comecei a assistir TV, quando Clarinha entra em meu quarto. Pede para que eu brinque com ela, não que eu costume fazer isso, mas eu não estava com clima para isso. Falei pra ela que estava cansada, ela insistiu, então tive de ser grossa com ela. Ela ficou triste e foi embora.

Mais tarde quando minha mãe chegou, ela veio reclamar comigo, com a falta de atenção que eu dou a minha irmã. O que ela não enxerga é que minha falta de atenção não se resume a minha irmã, mas sim ao resto do mundo. Nada me atrai, não consigo me apegar as coisas, gosto muito da minha irmã e sei que não cumpro, como deveria meu papel de irmã mais velha, mas o meu problema não é com ela, e sim comigo.

Então comecei a me sentir culpada e em um piscar de olhos, uma enxurrada de pensamentos confusos e maçantes, começaram a ocupar minha cabeça. Fiquei um tempo quieta e levantei, fui até o quarto da Clarinha e a abracei. Fiquei um tempo lá, apenas a observando, ela me deixou quieta e continuou fazendo seus deveres de casa, ai sim eu pude perceber que apesar de não entender o que acontecia, no fundo ela era única pessoa que me compreendia e que eu tinha uma dificuldade enorme de reconhecer isso.

Primeira parte:

http://www.recantodasletras.com.br/contos/3835762

Lucas Cobain
Enviado por Lucas Cobain em 18/08/2012
Código do texto: T3837078
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.