Demagogia Artística!

Retornou para sua cidadezinha trazendo consigo uma semi-derrota.

Alugou com dinheiro alheio a casa de sempre, instalou a mobília surrada, acomodou sua frustração ao exíguo espaço e, não pôde recusar as insistências da solidão e seu inquilinato dolorido!

Rascunhava estórias bobas para se entorpecer em uns modestos devaneios tortos, gozando de coquetéis de analgésicos para as dores reumáticas, e do café forte; o único sabor que lhe despertava lembranças!

A aposentadoria nunca foi suficiente; e então, com o poder das frases feitas se empregou em adornar por dinheiro a morte, com epitáfios bem convincentes, ao menos às posteridades desavisadas.

Os corpos desciam às dúzias à cova, tranquilamente honrados pelo parágrafo comprado, uma dignidade sem méritos.

Aventurou-se também em compor discursos; e descobriu que sua literatura absurda elegia candidatos, emocionava, ainda que sendo reconhecidas demagogias; pois suas palavras fluíam agradabilíssimas, tal qual poesia aos ouvidos nobres!

A mentira, às vezes é dignificada pela sutileza da encomenda; e o autor quase sempre chora junto ao povo, enquanto aplaude...

E esse é um derradeiro desconsolo:

Seu dom será a miséria alheia!

Anderson Dias Cardoso.

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