Vizinhos, Uma História Real!
Morava num daqueles aglomerados de barracões; quatro famílias dividindo o espaço de um lote e, enquanto minha esposa viajava em visita aos familiares eu era daquelas sombras submetidas ao capitalismo, chegando sempre tarde em casa, me resguardando discretamente de qualquer interação social, de acordo com minhas antipatias e fobias por interações desnecessárias!
Se alguma coisa denunciava-me a presença, isso era uma luz filtrada pela cortina improvisada e alguns resmungos da TV, ou o computador; quem me fazia companhia cantando um playlist repetitivo, que ofereciam mais distração do que prazer.
Era um tédio confinado que muito me agradava, e, se houvesse sabedoria para antecipar imprevistos, e dinheiro suficiente para me preparar o necessário eu não deixaria meus portões por nada que não fosse a visita à casa materna!
E até meu pet era uma gata negra, a qual eu brincava ser amuleto para evitar os supersticiosos, e esta era uma preferência pois, assim como eu, apreciava muito o silêncio!
Não fosse a gata, certamente seria um peixe dourado!
Sempre, sempre fora assim, daqueles que guardam suas cacofonias, brusquidões de movimento e atitudes para os períodos de ausência dos que poderiam se incomodar!Era um ninja condômino, de chegadas e saídas discretas, e nenhum ruído, ao não ser o sussurrar e um repentino estralo de parada da centrifuga!
Passei por toda ausência quase sem encontros, e mesmo nestes, era cortês segundo os protocolos; mantive minha discrição até a chegada da esposa!
A recebi alegremente, orgulhoso do meu proceder impecável, apenas para ver feridos os meus brios pelo deboche da amada; que me disse que a vizinha espalhara que ela pouco me cuidou, e que, em sua piedade ela me atendeu, quando eu lhe bati a porta pedindo pão!
Daí percebi, nenhuma reputação resiste à uma boa vizinhança!
Anderson Dias Cardoso.
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