Memórias da Infância

Quando escrevi meu nome sozinha pela primeira vez. Foi desse momento em diante que passei a existir.

Existir nas paredes, no cimento fresco das calçadas alheias, nas cascas das árvores ou em qualquer pedaço de papel que me coubesse.

Era inebriante o fascínio de existir em letras. De forma, caprichada ou ‘garranchada’, isso era o que menos importava. Era a junção, o significado que tornava tudo tão atraente.

Aquelas letras juntas formavam um ser tão orgulhoso, que valia a pena todas as broncas que geralmente vinham depois de tantas “artes”.

Algumas vezes, muito pesarosa tive que me “apagar”, e ainda muitas outras me vi escorrer, pelas paredes, com água e sabão, esfregada até desaparecer por completo, apenas para ressurgir resplandecente e com mais cor em outro lugar.

Questionamentos infindáveis, inquietação, teimosia e energia, ditavam a necessidade de criar passos largos para cobrir as distâncias do mundo. De existir num espaço cada vez maior, marcar território.

Hoje, mais de trinta anos depois, percebo o quanto existo!

Continuo questionadora, inquieta, teimosa e com uma energia que já foi maior…

Às letras que me formaram, acrescentei outras que se transformaram em milhões de palavras, que se multiplicaram em versos e que se tornaram pontes, para conquistar e ampliar o mundo que realmente importa a qualquer um: Aquele que existe dentro de nós!