Flor da noite

Era um lugar escuro e sombrio onde ela estava

Parecia estar ali a tanto tempo que quem a visse jurava que aquele era o ligar que havia nascido.

Nao se sabia bem a cor do seu cabelo, estava coberto de sujeira e poeira assim como o testo do seu corpo e o seu rosto.

Seu quarto era uma masmorra úmida e esverdeada com um cheiro que poderia se dizer... Peculiar,  nao comparado com muito que eu conheço...

Ela ficava sentada ,naquele chão frio, olhando para o nada, todas as noites... E como todas as noite a escuridão chegava.

Escuridão era como ela chamava o carrasco que lhe alimentava todos os dias. Com o seu capuz negro e seu chicote seco, ela se apavorava, tremia dos pés a cabeça quando o barulho metálico da chave na fechadura fazia um click, e abria. Quando aquela porta de Madeira escura e velha, era empurrada e escuridão aparecia. Seu corpo gelava. Era enorme e aproximava com passos pesados em sua direção encolhida no chão enlodado. Pegava com força o seu braço e lhe arrastava para ser presa na tortura.

Mas já estava acostumada, o medo era só no inicio. 

Entre as chibatadas secas que recebia, escuridão lhe perguntava sobre o dia e seus pensamentos, sobre seus sonhos e ouvia tudo... No meio da tortura. Ela nunca entendeu direito o porque daquilo, mas, por mais estranho que pareça , gostava...

Todas as noite escuridão vinha, e ela sempre respondia entre vários sonhos e idéias que tinha, que queria ir embora dali, conhecer um mundo que nunca viu... E sentia as chicotadas... E mais perguntas.

Um dia então, o sol estava frio, mas intenso, a menina acordou de uma forma como nunca havia acordado antes, forças que nunca tinha tido antes , e decidiu realizar seu grande sonho naquele dia. Arrastou suas palhas donde dormia sobre e descobriu um buraco que fazia muito tempo, que ficava sentada em cima todas as noites escondendo para escuridão nao ver, escuridão nao percebia o buraco quando a arrastava de lá.

Ela afundou naquele buraco e por muito tempo nao sabia o que fazer, apenas que havia de seguir em frente, por mais apertado e agonizante que fosse, ela havia de seguir. Conseguia escutar memórias que nunca teve ,sussurrando naquela foça, lembranças que nao sabe nem se eram suas gritando na sua cabeça para lhe confundir enquanto escapava daquela prisão.

Então sentiu o frescor de um cheiro leve de mundo novo, ganhou mais forças ainda, juntou o que tinha e se jogou mais para a frente, ávida, para realizar o eu desejo. Até que viu uma luz, era lá, ela sabia que sim, seu coracao bateu mais forte, seus lábios secaram de ansiedade, e ela mergulhou na luz. Jogando-se através do tunel, da saída ou da entrada, ela viu-se num campo. Lindo, com um cheiro doce de alvorada e orvalho novo. A luz era forte, sua visão era turva, mas nao se importava, estava livre... No meio daquele campo de flores, tão coloridas, de todos os tipos. Levantou-se e foi caminhando sentindo a grama fofa até uma, olhou-a por horas... Uma açunçena. Envolveu-a de leve nas suas mãos e arrancou ela para si, para levar junto a sua nova caminhada. Ela noa sabia bem para onde ir... Colocou a flor presa aos seus trapos velhos que vestia e olhou e, volta, avistou uma cidade no horizonte, seria lá o seu caminho.

O barulho era insuportável, pobre doce andorinha ela era, solta em um mundo sem melodia, seu canto parecia quase um choro... Seus olhos era, as únicas coisas coloridas naquele mundo cinza e sem vida que ela havia se metido. Estava confusa, estava tonta,  passagem por ela com pressa, batiam ao seu encontro quase esmagando a frágil flor que ela carregava... Que, via nao entendia bem o porque ela protegia tanto aquela florzinha... Que aguardasse pra perceber que aquela era a sua alma, sua inocência que ela tanto tinha medo de deixarem pisar, era a sua cor naquele mundo de fumaça.

Sentia medo, chorava... Queria falar sobre seus sonhos para alguém, mas nao tinha ninguem para ouvir... Ela chorava... Baixinho sozinha no meio daquelas pessoas sem rosto que passavam sem se importar, ela chorava...

Queria falar com alguém, mas ninguem a escutava. De certa forma ela sentia saudades da escuridão que a cercava toda noite, aquilo que fazia seu coracao bater de medo, mas ao menos batia forte... Aquilo que perguntava sobre seus sonhos, mesmo lhe causando dor, ela conversava. Ela tinha falta de alguém e as vezes pensava até mesmo em correr de volta para aquele buraco e voltar para o seu carrasco, mas sabia que nao... Nao podia, nao de novo...

Agora teria de seguir em frente, e mesmo com a sua visão esfumaçada, agarrou a sua florzinha e enxugou aquelas lagrimas, e jogou-se para enfrentar aquele mundo... O que aconteceu a ela? Ela teve um romance? Ela foi realmente feliz? Eu nao posso dizer... Ela fez tudo sozinha? Nao... Sozinha uma flor se mantém linda por muito tempo, mas fica tão vulnerável a sua própria fragilidade, que seca e morre... Mas o que aconteceu a ela eu nao sei, o seu futuro nao cabe a mim escrever... mas quando olho a tarde, além da minha janela, eu vejo  uma cor diferente no mundo e um cheiro de flor leve, para quem se  deixa sentir.

Cadu Guerra
Enviado por Cadu Guerra em 27/07/2012
Reeditado em 27/07/2012
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