A espera
- Nove horas. Está quase na hora. Ela já vai chegar.
Ansioso, sento na varanda, observando o luar. O peito cheio de saudade, transpirando todo o amor de anos guardado. Olhava os passantes, esperando que ela aparecesse, abrisse o portão, viesse ao meu encontro e, como antes, me abraçasse, sem qualquer pressa, medo ou aflição.
Em minha cabeça, rodava o filme do nosso primeiro encontro. Éramos jovens, sem muitas responsabilidades. Dois sonhadores que se encontraram no meio do furacão que é a vida. Desde a primeira troca de olhares, eu sabia que era ela, que sempre seria ela. Margarida era o seu nome. “Uma flor com nome de flor”, e esse pensamento fez com que uma lágrima escorresse. Era a falta dela crescendo em mim
Antônio se levanta e vai até seu quarto. Abre a gaveta e encontra uma foto do dia em que ele e Margarida se conheceram. Destruída pelo tempo, ele a guardava como uma lembrança da qual não se desfizera pelo valor do momento retratado. Há quanto tempo não se viam? Havia perdido a conta. Mas hoje ela viria, conforme prometera.
O homem, já abatido pelo tempo, segue para o quarto e retira do armário seu mais belo terno. Olha novamente o relógio, que agora marca nove e quinze. Prepara-se para o banho. Cada gota d’água que percorria o seu corpo lhe dava a sensação de juventude. Ou será que se sentia dessa forma por saber que ela estava chegando? A lembrança de Margarida fez seu coração se acelerar.
Saiu do banho cantarolando, com um sorriso singular. O sorriso dos que amam. Vestiu-se rapidamente e tornou a olhar o relógio.
- Nove e meia. Agora, é só esperar a chegada da querida. Minha querida Margarida. – e suspirou, tentando aliviar sua ansiedade. – As mulheres sempre atrasam. Demoram muito para ficarem prontas e quase nos matam de tanto esperar! – exclamou, sorrindo para o espelho.
Olhou mais uma vez a velha foto e sorriu, iniciando sua caminhada até a varanda. Mais uma vez sentado, parou para admirar as estrelas, com seus brilhos encantadores. “Margarida é a estrela que me guia.”, pensou e, em seguida, riu de si mesmo, sentindo-se um velho bobo.
Enquanto observava a noite, lembrou-se dos momentos em que estivera com Margarida. Os dois haviam se conhecido em uma festa e logo se aproximaram. Antônio sentia uma forte ligação com a menina, embora não conseguisse entender o motivo. Bela moça, ela tinha cabelos pretos e olhos verdes. O rosto, apesar dos traços bem delicados, carregava uma determinação incomum às jovens desse tempo.
Ficamos juntos a noite toda, alternando danças, conversas e risadas. Ela, jovem e forte, me encantava. Não haveria outra como ela. Então descobri que Margarida estava apenas de passagem. Seu pai trabalhava em um município próximo e ela morava lá.
- Não se preocupe, Antônio, mandarei cartas sempre. Quando eu voltar aqui, você será o primeiro a saber. – prometeu a mim, com seu olhar meigo e determinado. Desejei, naquele momento, poder acordar todos os dias com aquele olhar sobre mim. Apenas sorri em resposta.
Após a festa, nos vimos poucas vezes, mas sempre trocávamos correspondências. A cada dia que passava, meu sentimento ficava maior e mais forte. Logo soube que ela sentia o mesmo. Jurei que nos casaríamos quando ela quisesse. Ela aceitou. “É o que mais desejo, meu querido.”
Mesmo contra a sua vontade, a menina foi obrigada a ir embora com o pai para outro estado, longe de onde eu vivia. Com isso, nosso contato diminui. A despeito de tudo e de todos, o meu amor por Margarida continuou a crescer.
Hoje faz 40 anos que nos conhecemos. Enviei outra carta a ela e sei que virá ao meu encontro. E, mais uma vez, dançaremos, conversaremos e riremos, como se fosse a primeira vez.
Olho o relógio e percebo que ela está muito atrasada.
- Já são dez e meia. Onde você está, querida? – sinto um forte aperto em meu coração. Iria esperá-la o tempo que fosse. – Sei que ela virá. Já vejo a minha amada chegar, abrir o portão e vir em minha direção.
Entre lágrimas e sorrisos, o homem imagina as surpresas que ela trará, o carinho que lhe dará, e seu coração, mais do que nunca, desejava fortemente a presença dela. Estava com medo. Não queria que ela o deixasse mais uma vez.
- Seu Antônio, está na hora de dormir. Venha, vou levá-lo ao seu quarto. Está frio, o senhor não deve ficar aqui fora todas as noites. Não quero que fique doente. – disse a mulher de branco, com um sorriso, estendendo a mão.
Olhei o portão por um tempo, já sem esperanças. Mais uma vez, ela não veio.