E ele amargava todos os momentos, instantes, horas em que não lhe era possível ficar e estar com a sua amada.

Em certa altura ele verificou que aquela situação de amargura, antes esparsa, estava se tornando a cada dia, a cada estação, uma constante, pois a sua amada em igual frequência não estava mais tão próxima dele quanto era de seu desejo.

Assim, a tristeza, o vazio, a condição de não ter motivos para as  suas  atividades, tornavam-no como um autômato, fazendo o  que tinha de ser realizado sem vislumbrar nenhuma perspectiva de que houvesse justificativa para que fizesse algo por uma razão ou um sentido.

Pois para ele era importante identificar causas para suas ações, razões para sim e não, como de igual modo para os seus senões.

Impossível modificar agora o que outros  conseguiram decorridos séculos de incisivas, frequentes, incessantes, fortes e urdidamente planejadas alocações de modelos cerebrais de comportamento, respostas a estímulos, condicionamentos, procedimentos milimetricamente implantados por vias diretas e indiretas, em diversas escalas e táticas, tudo em nome de um bem maior, de uma gaia ciência, na busca da perfeição do ser físico, mas  com claros fins de controle mental e emocional.

Pena, de algum modo ele tentava a todo o custo não acreditar nisto e até mesmo desacreditar que a alguém fosse atribuído o poder de manipular todo o seu comportamento, seu pensamento, suas ações e até mesmo suas emoções, por meio de experiências das quais ele seria mera e simples cobaia, de testes e mais testes, para medir capacidades de sobrevivência em situações as mais adversas , agora focadas em aspectos de cunho totalmente psicológicos, comportamentais, sim, no momento esta era a diretriz, pois a fase de testes em que foram verificadas as condições e reações de sua espécie a extremos climáticos, doenças, habitats, pertenciam agora ao passado, já haviam sido muito bem executadas por outros, foram outros os aplicadores e as cobaias.

Não podia aceitar , firmemente negava que tal fosse plausível, que ele, todos os seus pensamentos, seus sentimentos, suas emoções e ela, sua amada, todos os pensamentos de sua amada, todos os sentimentos de sua amada, todas as emoções de sua amada, tudo era apenas um experimento, testes comportamentais, jogos mentais , marcadores, resultados a serem anotados e lançados em tabelas e gráficos estatísticos, em percentuais, registros de tratados científicos de medições, modulações de causas e efeitos, tudo, apenas isso, uma experiência, testes e mais testes, testes dentro de outros testes...

E seguia ele, sua busca continuava. E ela não mais estava lá. E ele seguia mesmo naquele lugar repleto de possibilidades impossíveis. Agora sem sua amada, perseguia a vida e pela vida era evitado, buscava o amor e pelo amor era desprezado, fugia da dor e em seus braços era acalmado, acariciado, totalmente bem-vindo e aconchegado em seu regaço acolhedor.

Noite após noite, na lua, nas estrelas, ao luar, dia após dia, no sol, ao sol, chegavam novos períodos e outros tantos findavam, era observado em medida e distância certas, insistentemente recusando-se a ser mais uma entre tantas cobaias de experimentações de sentimentos humanos, ou quase isso...
Vauxhall
Enviado por Vauxhall em 21/07/2012
Reeditado em 22/12/2017
Código do texto: T3789369
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