Minha babá pedófila, e meus traumas de hoje...
Eu tinha cinco anos na época – a nossa babá teve que ir embora, se casou. – quando trocamos de babá. A irmã da antiga babá veio cuidar de mim. Todos na cidade falavam que ela era lésbica – na verdade diziam sapatão mesmo – mas minha mãe não acreditava. Ela não me deixava só. Tinha que trabalhar, então era a única solução.
Nego, como todos chamavam a babá – por que ela era muito parecida com homem era maravilhosa aos olhos da minha mãe. Ela cuidava de mim de uma forma que nunca ninguém suspeitaria dela. Me dava banho, ajudava a me trocar, me levava todo dia no mercado pra comprar chocolates, me dava comida no hora certa. Era uma pessoa fora de qualquer suspeita.
Então um dia minha mãe teve que trabalhar a noite. Ela veio dormir comigo em casa. Veio também uma prima que nunca desgrudava de mim, tendo mais irmãos, ela preferia ficar na minha casa, onde era só eu e todo o conforto do mundo. Ela e os irmãos passavam necessidades, enquanto em casa tinha fartura de tudo.
A babá nos deus banhos, jantar, e como sempre tive medo de dormir só, por que a noite eu via coisas que me assustavam, eu não podia ficar sozinha que lá estavam elas... as vezes eu gritava, outras era arrastada da cama e jogada no chão, eu tinha medo, não contava pra ninguém o que me acontecia, mas nunca ficava sozinha a noite... ela dormiu comigo e minha prima na cama da minha mãe.
- A Karla tem medo de dormi sozinha. – Minha mãe falou, ela era a única que sabia, mesmo sem entender o que eu via... Eu era perturbada um pesadelo, assustadora mesmo, até eu tinha medo de mim...
Ela obedeceu. Deitou eu, ela no meio e minha prima do outra lado. Eu dormir logo, acordei no meio da noite. Senti uma acariciando entre as minhas pernas, a sensação era boa, prazerosa. Eu olhei assustada pra babá, ela sorriu e disse:
- Sabe guardo um segredo! Vou te ensinar como os adultos fazem pra se divertir. Não pode contar a ninguém, ou arranco sua língua quando sua mãe não tiver aqui.
O medo falou alto. Eu disse sim baixinho. Ela começou a me lamber nos seios, na barriga e desceu, era divertido brincar de ser adulto. Não tinha ideia do que estava acontecendo. Achei na época que era como ela disse uma brincadeira.
Minha mãe trabalhou a noite por seis meses. E ela dormiu comigo todas as noites.
No início eram só lambidas e beijos na minha boca. Depois ela me pediu pra fazer o mesmo nela. Eu não deixava minha prima dormir mais na minha casa com medo que ela contasse pra minha mãe. Algo me dizia que aquilo era errado, não devia ser certo, porque ela sempre me ameaçava.
Então ela me pediu pra chamar minha prima pra dormir na minha casa. Fomos pra cama cedo aquele dia. Ela fez as mesmas coisas com nós duas. Nos acariciou, beijou, nos colocou pra fazer nela e uma na outra. Até que estávamos cansadas e pedimos pra ela nos deixar dormir.
Acordamos no outro dia na hora do almoço. Ela disse que tínhamos ficado vendo filme até tarde. Minha mãe acreditou e pediu pra ela não deixar mais.
Ela ficou mais cuidadosa. Fazia um pouco e nos botava pra dormir cedo. Eu comecei a me isolar dos outros nessa época. Não queria amigos, nem gente perto de mim, nem na minha casa. Não sabia o que estava acontecendo só que não era certo alguma coisa. Passava o tempo na tv, ou com minhas bonecas. Minha mãe sempre ocupada achava quer era por ela tá trabalhando a noite. Pediu pra ser transferida por dia, mas hora ou outra ia à noite e a Nego aproveitava comigo.
Eu já estava com 6 anos nessa época. Minha prima e eu fazíamos sozinhas mesmo sem ela, porque era um tipo de vício, gostávamos da sensação de nos tocar e nos beijar. A nego foi embora da minha casa e outra babá veio, cerca de um ano depois. Ela foi embora da cidade, nunca mais a vi. A outra babá era normal. Me deixava tomar banho sozinha, me virar, mas sempre me perguntava quando ela iria brincar comigo como os adultos brincava. Eu tinha medo de ficar só com qualquer pessoa além da minha mãe.
O tempo passou eu comecei a estudar e a entender que era errado, eu e minha prima às vezes brincávamos como os adultos, mas ninguém sabia era um segredo nosso. Então um dia fui pra fazenda passar um dia na casa dos meus avós. Estava com uns oito anos na época. Fui no fazer xixi, meu tio me pegou, tampou minha boca e me violentou. Não chegou a me penetrar. Ele só esfregou o pênis no meio das minhas pernas. Desde então eu chorava que não queria visitar meus avós e minha mãe me obrigava. Ele fez isso umas 4 vezes antes de eu fazer 9, depois foi embora e graças a Deus só voltei a ver ele depois de adulta.
Eu cada vez confiava menos nas pessoas. E me afastava delas. Me insolava... Entrei em depressão, dizia pra minha mãe que ia me matar aos dez anos. Ela ficou louca na época, fiz um monte de tratamento. De médicos e macumbeiro e por fim, fiquei bem outra vez. Voltei a sorrir, me esqueci das coisas. Do que tinha acontecido. Ou talvez tenha bloqueado por muitos anos e só lembrado depois de outro trauma. Sei lá...
Eu cresci, casei e tive filhos, mas nunca confiei em ninguém. O trauma sempre me seguiu. Eu tentava lembrar por que eu tinha aquele medo de alguém iria violentar meus filhos, mas não sabia. Nunca tinha sido violentada, não que eu me lembrasse. Nunca deixei meus filhos nem com o pai. Só separavam de mim pra ir pra escola. Me afastei do meu melhor amigo por causa de um comentário maldoso de uma amiga dele que dizia que ele gostava de meninos – meu filho tinha 10 anos e os dois se adoravam. Ele tratava ele como seu próprio filho.
Meu marido chorava falando pra minha mãe que eu achava que ele era um monstro, mas não tinha o que fazer. Eu via toda a cena na minha cabeça. Meus filhos sendo violentados e calados, e se isolando, se deprimindo, com medo e vergonha de contar, sem saber explicar o que acontecia, como eu um dia...
Vive traumatizada sem saber o motivo. Sem me lembrar dele...
Um dia nessa época em que esse meu amigo me enchia a paciência querendo levar meu filho de 9 anos pra jogar bola no parque e eu não deixava eu acordei no meio da noite e as lembranças vieram. Foi a primeira vez que falei disso com alguém. Única vez, antes de hoje. Escrevi um e-mail pra ele contando todos os motivos dos meus traumas. Ele entendeu e começou a me ajudar. Ele levava meu filho com ele, pra passear e deixava o celular ligado, eu ligava a cada cinco minutos no inicio, depois dez, depois meia hora, por fim depois de um mês ele me ligava se precisasse.
Meu amigo se mudou de cidade, meu filho tava com12 anos na época. Ele me pediu pra ir visitar ele. Eu o levei, porque eu já tinha aprendido a confiar nele. Passamos uma semana com o pc e a câmera ligada, onde meu filho ia eu via. Meu amigo viveu um big Brothers, mais me ajudou a superar vários traumas. Ou era o que eu achava. Quando a amiga dele fez o comentário, eu não agi pela lógica. Eu o conhecia, sabia que podia confiar nele, mas a semente da duvida e tudo o que tinha vivido me fez duvidar dele. Preferir para de falar com ele. Nunca colocaria meu filho em risco – um risco que só existiu na minha cabeça.
Assim são os traumas. Do nada eles voltam bagunçam toda a sua vida e até dizemos que superamos, mas um dia ele está lá...
Eles dormem, mas não morrem. Medos que se escondem dentro de cada um. Eu vivi assim, me afastando das pessoas. Nunca fui capaz de amar de verdade de me entregar por inteira a ninguém. Ou se percebia que tinha esse risco dava um jeito de fazer o cara se afastar de mim. Casei sem amar, porque meu marido era legal, fiel, em fim, nada de sentimentos. Estamos juntos a 15 anos. Tenho carinho, respeito, mas não amor por ele.
Ontem li que uma pessoa quando passa algo como eu, passava a vida tentado afastas as pessoas dela. E realmente é assim que eu sou. Só fica perto de mim quem realmente gosta de mim. Tenho bipolaridade.
Hoje acordei feliz. Por que finalmente entendi coisas que não era capaz de entender. Não tenho raiva da babá. Não sinto nada quando lembro dela. Mas ela destruiu a minha confiança e me fez me afastar de muita gente...
Mais depois de ontem dia 18 de 07 de 2012 eu sou outra pessoa...
Tive que enlouquecer pra me encontrar...