O ingrato é infeliz, faça chuva ou faça sol
Conta-se que numa cidadezinha do interior de são Paulo, perto da divisa do Mato Grosso do Sul, década de sessenta, saiu um boato de que a Terra seria atingida por um meteoro. Todos ficaram apavorados, mas cada um reagiu de acordo com sua natureza, evidente.
Algumas pessoas mantinha sua fé e serenidade. Mas muitos queriam desfrutar tudo o que não tinham até ali vivido, com medo de o mundo acabar e não conseguirem conhecer certos prazeres.
Foi quando Ingrato Soares, 25 anos, tomou uma decisão, que segundo ele imaginava, mudaria sua vida para melhor. Pois até ali a vida tinha sido muito dura com ele, pois nascera pobre e não lhe tinha aparecido boas oportunidades. A família não o entendia. Os amigos sempre queriam tudo que uma amizade pode oferecer sem lhe dar nada em troca. Sentia-se muito injustiçado. Era assim que ele via as coisas.
Mas nem que fosse apenas por alguns meses seria feliz. Iria se casar. Dona Paciência era moça muito bonita e generosa que gostou muito dele. Tinha muita maturidade, nunca reclamava, sabia fazer uso das dádivas do tempo. E eles já namoravam há um bom tempo.
Sim, ele não vacilou, não pensou duas vezes. Pediu dona Paciência em casamento, que o aceitou. Casaram-se. E curiosamente sua vida continuava muito infeliz.
Decidiu, então, ter um filho, aí sim seria diferente. Era o que faltava, um filho para iluminar sua casa, sua vida. Dona Paciência pediu a ele uma semana para pensar, afinal era uma decisão muito importante. Envolvia outro ser, embora fosse da vontade dela desde muito tempo ter um filho com ele.
Passado o tempo solicitado, dona Paciência disse a ele que deveriam tentar, mas deviam pedir antes a Deus que os abençoassem. Se viesse o bebê, era a benção esperada. Resposta de Deus.
Nasceu Esperança, uma linda menina, cheia de alegria, que encantava todos. Menos ao pai, que a considerava com uma luz excessiva. Conforme Esperança crescia, ele a considerava ingênua, lunática. Ah, que dor a sua de pai. Não era o que ele esperava.
Com 10 anos de casados, Ingrato começou a considerar que o mundo devia ter acabado. Ele se deu conta de que o tempo passou e ele Foi enganado. Nada do mundo acabar.
Depois de vinte anos de casados, Ingrato decidiu abandonar tudo, juntar suas economias e estudar física. E assim o fez. Com seu intelecto avançado, dádiva divina, passou na federal do Mato Groso do Sul, especializando-se em física nuclear, ciência maravilhosa que Deus ofertou aos homens para fazer uso das benesses da energia atômica. Mas Ingrato queria mesmo era fazer bombas atômicas. Ah, o mundo era um lugar terrível para se viver.