PADRES
PADRES
Ana Maria de Gertrudes Bezerra, casou-se, com o Sr. Antônio Augusto Teodoro Filho, na Catedral De São João, na noite de 22 de Junho de 1990, às 20 horas e trinta minutos. A referida instituição, estava impecavelmente ornamentada para a ocasião, contam que todo aparato, viera de uma região da Itália, importada que fora pelos genitores de Ana Maria, filha única do casal Pablo e Josefa Gertrudes.
Voltando um pouco no tempo, vamos flagrar os nubentes de hoje, correndo felizes pela pacata cidade interiorana de Feira de Santana, contavam na época respectiva mente com onze e treze anos de idades. E desde tal época, há quem jurasse que o amor dois podia ser visível a olho nu. Antonio, garoto esbelto, era bastante cortejado pelo sexo oposto, e invejado pelos colegas. Dono de uma beleza incomum, e um porte atlético que diziam ter herdado do avô materno, aos treze anos, já se aprumava sobre um metro e oitenta bem definidos. Ana, parecia um princesa saída dos contos de fada, a tez alva contrastava com os cabelos negros, da cor da jabuticaba, como dizia sua avó e tão sedosos, longos e perfumados que inebriava a todos. Esse era o casal Ana Maria e Antônio Augusto, ainda adolescentes, que brincavam despreocupados, e felizes. Estudavam na mesma Escola, o Educandário Darcy Ribeiro. Ana, na época, cursava o sétima série do fundamentam II, enquanto que seu amigo, acabava de ingressar no ensino médio, contudo só iam e viam da escola juntos, tinha vezes que um esperava pelo por mais de 2 horas, mais a satisfação da companhia de ambos era bem maior e prazerosa do que qualquer inconveniente.
Quero ressaltar, que ambos foram batizados, na pequena Capela local, pelo Padre Antonio Maria, que há 25 anos, viera das bandas de Portugal, mais precisamente de Lisboa, para exercer seu sacerdócio, naquela aprazível e bucólica cidade.
E hoje, transcorridos alguns anos, para a satisfação de todos, o Padre Antonio Maria, celebrava o casamento de ambos. O religioso, era bastante requisitado na região, demonstrava ser um home sóbrio, e temente a Deus.
As suas missas, ao domingo pela manhã era bastante concorrida, e não raras vezes todos que ali se encontravam emocionavam-se até as lágrimas, com o seu sermão. Sua voz, calma e compassada, parecia raios de luz e iluminava todo o ambiente.
Voltando ao casamento, os respectivos genitores estavam deslumbrados, de há muito eles sabiam que aquele dia não tardaria a chegar, e chegou com toda pompa, para gáudio de todos os presentes, trazendo felicidades e expectativas alvissareiras.
A Igreja estava superlotada, a decoração saltava aos olhos, a orquestra de violinos, trazida de São Paulo, fez anunciar a Ave Maria de Gounod. Todos pareciam hipnotizados, os violinos pareciam sonhos recém-saídos da imaginação dos poetas. Tudo parecia uma fantasia!
Quando a música tornou o silêncio ainda maior, fez-se ouvir a voz pausada de do Padre Antônio Maria, tão suave quanto os violinos e, também encantava, fazendo com que o estado êxtase se prolongasse por mais tempo.
Não foi um sermão como de costume, suas palavra tocavam ainda mais alma de todos, e quando da célebre frase, Ana Maria você aceita, Antônio Augusto, a magia que envolvia o ambiente se fez incomensurável ,ouvia-se somente a respiração, de cada um que ali estava presente formando uma grande orquestra.
A resposta foi acompanhada, por grande expectativa, os corações pareciam bater num só ritmo, e quando a voz doce e terna da futura esposa deu o sim, podia-se ver uma nuvem azulada transparente cobrindo a cabeça de todos que ali estavam. Como se anjos estivessem sobrevoando sobre as cabeças dos noivos e de todos que ali se encontravam. Encerrada a cerimônia, com o pode beijar a noiva, após o sim não menos concorrido de Antônio Augusto, os suspiros das moças que ainda nutriam alguma esperança foram perdendo-se naquele ambiente feliz, que prometia uma aliança duradoura.
A grande algazarra, que se formava agora nas regiões circunvizinhas à igreja, era por conta dos curiosos, que queriam ver os recém-casados, e muitos afoitamente se colocaram de forma imprudente na passagem, tendo que serem gentilmente arredados de lá, para que marido e mulher pudessem passar com certa tranquilidade. Os olhares cumpridos revelavam a grande simpatia que os noivos causavam nos presentes, muitos que ali estavam apesar de serem amigos de infância, de ambos, em virtude da condição social, não foram convidados, mas mesmo assim estavam ali torcendo pela felicidade deles.
O grande salão de festa, não menos ricamente decorado, podia abrigar confortadamente 400 convidados, mais parecia ter um número bem maior, pois estava apinhado.
Todos dançavam, bebiam alegremente. Os recém-casados exultavam de felicidade, dançavam rosto colado, e os olhos pareciam fazer eternas juras de amor. Outros casais os imitavam, e por certo, logo, logo Padre Antônio Maria, estaria celebrando outros casamentos.
O Sol, já ameaçava sair por detrás da Prefeitura, como faz todos os dias às 5h 30 minutos, quando os primeiros convidados visivelmente cansados, começaram a deixar o salão.
Meia hora depois, marido e mulher afins sós, adentravam pela primeira vez, na luxuosa alcova, por certo ali seria o ninho de amor tão sonhado por ambos.
Quando o grande almoço foi anunciado, às 15h30mim, somente para os parentes, e alguns amigos mais próximos, a não presença dos noivos gerou grandes brincadeiras, e todos riam felizes.
Quando eles apareceram uma hora e meia, depois, as brincadeiras se intensificaram deixando Ana Maria, um pouco constrangida e envergonhada.
Na semana seguinte, marido e mulher, rumaram para a pequena cidade de Santa Bárbara, onde residiriam na Fazenda Tomé de Souza, que ganharam de casamento, de seus respectivos genitores.
Ana Maria tinha-se formado em medicina veterinária, amava os animais, e cuidava deles com dedicada atenção. Seu esposo, célebre administrador de empresas, em que pese a pouca idade, despontava como grande expoente, e já era respeitadíssimo.
A vida transcorria tranquila, e já se passaram mais de seis meses, e Ana e Antônio, cada vez mais apaixonadas, faziam planos, e torciam para verem dali a alguns anos seus quatro filhos, correndo felizes. Esse era o intento do casal, terem uma família com quatro filhos, em que pese ambos serem filho único.
Os genitores de ambos também torciam, e esperavam ansiosamente pelo primeiro netinho, quando oito meses depois veio a grande notícia de que Ana estava grávida, todos pressurosamente rumaram para a Fazenda Teodoro, em busca da grande notícia.
De início a gravidez de Ana Maria, mostrou algumas complicações, e eles foram orientados a voltarem para Feira de Santana, por se tratar de um Centro mais adiantado, e por estar mais perto da Capital.
Passado o susto inicial, as coisas voltaram aos conformes, porém havia uma recomendação expressa do médico, repouso absoluto.
Sr. Antônio, três dias depois voltou para Santa Bárbara, deixando a esposa aos cuidados dos respectivos genitores que a cobriam de mimos. A presença dele, para tocar os negócios da família era imperiosa.
As coisas se arranjavam, e tudo agora transcorria com certa tranquilidade apesar dos cuidados que Aninha ainda inspirava.
Os dias se passaram Sr. Antônio, ficava entre Feira e Santa Bárbara, toda sexta-feira, chegava por volta das quinze horas, e só retornava na segunda-feira, logo cedo. Nesses dias, tomava conta da esposa, era visível como o amor deles crescia, precisamente agora, que João Vitor, estava a caminho, e eles faziam de tudo, para que as coisas dessem certo, nos mínimos detalhes, e sob a orientação do Obstetra, Dr. Júlio Cortês, eles seguiam à risca as orientações.
D. Cândida, mãe de Ana Maria, estava radiante e também não media esforços, para que a filha se sentisse a mais aconchegada possível. Padre Antonia Maria, visitava a família periodicamente, levando a palavra de Deus, e seu incentivo pessoal, como amigo da família.
Na manhã de setembro de 1991, Ana dava entrada com urgência na unidade intensiva de Obstetrícia, do hospital local. E depois de grande corre, corre e grande apreensão por parte de todos, João Vítor, nascido de sete meses, chegava ao mundo, trazendo não só alegrias, como algumas apreensões.
Tais apreensões foram em parte vencidas, depois de um período necessário que o mesmo ficara internado sob os cuidados médicos de uma equipe competente, e que de certa forma serviu de alento para a família.
Transcorrido esse período necessário, João Vítor, juntamente com sua mãe, fora para a casa de seus avós maternos, e foi recebido com grande euforia.
Mãe e filho foram festejados, Sr. Antônio, estava visivelmente emocionado, pela primeira vez estreitava nos braços aquele ser frágil e indefeso.
O Avô paterno jurava que o neto era a cara dele, e a disputa acirrada com os avós maternos, chegava ser hilariante.
João Vítor, ainda inspirava cuidados. Padre Antônio Maria, fora visitá-lo, e como sempre fazia orou por todos e pediu a Maria mãe de Jesus que intercedesse, pelo menino, que era também seu filho., como todos nós!
Padre Antônio, ficou para o jantar, e depois das 20 horas, regressou à paróquia, levando a intenção de fazer votos, pelo menino.
D. Ana Maria, num momento de fé inabalável, prometera à Virgem Maria, que se seu filho sarasse logo das enfermidades que o acometia, ele, o seu filho, seria um emissário da igreja, para que pudesse, como faz hoje Padre Antonio Maria, levar conforto e resignação aos aflitos. Essa promessa era um segredo seu, de seu filho e da Virgem Maria, e ela haveria de cumpri-lo no momento azado. O batizado de João serviu para que esses votos feitos a Jesus e Maria fossem ainda mais sacramentados.
O Sr. Antônio vendera a Fazenda Tomé de Souza, e comprara outra propriedade em Feira de Santana, para poder ficar junto à família, pois D. Amélia não se sentia segura em Santa Bárbara.
O aniversário de um ano de João Vitor foi tão pomposo, que muitos afiançaram que o mesmo teve tanto ou maior esplendor, e glamour, que o casamento dos seus genitores.
As coisas corriam tranquilas, a nova Fazenda começava a prosperar. Ana que deixara de cuidar de seus animais por força dos últimos acontecimentos, já assinalava a possibilidade de voltar ás atividades de que tanto gostava ademais João Vítor, apesar de inspirar os cuidados de sempre, a situação estava soube controle, e Ana Maria, acreditava piamente, que Nossa Senhora estava intercedendo por ele. A promessa que ela fizera em momento de dor e exasperação, estava de pé, fora aceita e ela, esperava pelo grande momento, por certo seu marido também teria orgulho, de ter um filho Padre, assim como seus avós.
A primeira comunhão de João ocorreu numa manhã de domingo, uma manhã ensolarada, e foi bem agradável reunir a família em torno daquele acontecimento.
Aos oito anos João Vítor, frequentava o grupo de jovens da igreja. Padre João Maria tinha um carinho especial por ele.
Aos sábados sua genitora o deixava por volta das 14 horas, e não partia, sem antes pedir a benção do Padre, e entregar-lhe uma cesta com as guloseimas que ele tanto gosta.
O casal estava muito feliz, reinava uma paz contagiante na família, os avós desdobravam-se para ajudar na criação do pequeno João Vitor.
As crises a que acometiam o menino, ficaram mais espaçadas tanto que acreditavam que logo,logo ele estaria curado por completo.
Quando fez doze anos, já era coroinha, e ajudava o Padre durante a Santa Missa, para orgulho de seus pais e seus avós, maternos. Os avós paternos não viam com bons olhos e não pretendiam que o mesmo torna-se religioso, acreditavam que o mesmo seguiria a carreia do Pai, e para tal torciam fervorosamente.
No sábado, próximo João completaria 13anos, e uma grande festa estava sendo preparada, seus tios que moravam no Sul do Estado, confirmaram a sua presença no evento, todos só falavam no grande acontecimento.
Ana Maria, notara que já passava da hora de João Vítor ter voltado da igreja, pensou ela ter ele passado na casa dos avós, contudo o tempo passou e nem sinal do menino, quando ela aflita procurou o marido para notificá-lo já se passava das oito horas, rumaram para casa dos pais de Ana, e lá tiveram a certeza de que João Vítor não aparecera como de costume.
Quando chegaram ao estabelecimento religioso, encontraram as portas encerradas, e ninguém sabia informar pelo paradeiro do menino. A aflição tomara conta de todos, procuraram a delegacia que ficava a poucos metros dali, já era por volta das vinte e duas horas, quanto os prepostos da polícia chegaram e a todo custo procuraram manter contato com o religioso. Devida as negativas, procuram D. Josefa das flores, uma Beata, que cuidava do altar, e que tinha as chaves da igreja. Quando a localizaram já era por volta das onze horas, Ana deixava transparecer toda a aflição que a consumia, seu pai também estava nervoso,mais a grande custo buscava se controlar.
Quando adentraram a igreja, após as procuras iniciais, um quadro de horror se estampou diante daqueles que ali estava presente, João Vítor, estava nu jogado atrás do altar, e tudo indicava que havia sido abusado sexualmente. Um grito de dor lancinante fez-se ouvir pelo recinto, Ana ao se deparar com o corpo do filho incontrolada parecia urrar de desespero, a revolta era visível na face de todos.
O corpo fora removido e horas mais tarde, veio a triste confirmação que chocou ainda mais a população, o abuso sexual fora confirmado pelos médicos peritos encarregados do caso.
Ana Maria, aquele ser frágil, saiu a esmo, já se passava de mais de três horas da madrugada, ela caminhava sem rumo, já não mais chorava, a expressão de dor esta congelada no rosto, andava, gesticulava, tinha horas que parecia sorrir, tirou as sandálias e caminhava sobre aquele asfalto indiferente,a machucar-lhe os pés. Os cabelos desgrenhados, a face suada, os olhos perdidos como se fitassem o nada, as mãos nervosas, pintavam um quadro triste de uma mãe em desespero,ela acreditava que a Virgem Maria tinha abandonado a ela e ao filho dela.
Continuou a andar, parecia que ia em direção ao infinito, vários amigos e familiares sairam ao seu encalço, sem sucesso, entre eles o pai de João Vítor, que distanciado do grupo chorava copiosamente, e também já deixava fotografar os mesmos sinais de desespero transloucado.
A população estava em polvorosa. Ana seguia ainda sem rumo, e não viu quando um carro passou em toda velocidade, e ela ali ficou, João Vítor chegou e a chamou: mãe!
Sr.Antônio Augusto, também sorria,também gesticulava, parecia falar com seres invisíveis. Horas ele se dirigia ao filho, horas á esposa, como se eles estivessem ali, e os abraçassem.
Quando a notícia chegou do acontecido com Ana Maria, outros rumores sacudiram ainda mais a todos, falava-se que o Padre João Maria, voltara à noite dos acontecimentos a Portugal, a Lisboa, fazendo antes escala em São Paulo.
O pai de João continuava andando, assim como fizera sua esposa, também sorria, também gesticulava, os pés já não mais o obedeciam, estava machucado, ele sentou-se na calçada, e ali fechou os olhos!
Ana Maria, sua esposa, e João Vítor , seu filho, acercaram-se dele!