Sexta-feira 13, chuva e saudade.

É um dia errado, um clima errado e eu, movimentando-me numa rotatória da vida onde não consigo achar a volta ou a ida, acordei com saudade. Do abraço no fim do dia, das voltas de carro com o vidro aberto, cabelos ao vento, frio e felicidade. Era felicidade plena, quando havia você. Não havia outra coisa sequer que eu quisesse. Do fundo do coração, até inclino minha cabeça pro lado, com um olhar vago sobre todas as coisas, pra confessar com infelicidade que só você me fez feliz de verdade até hoje. Até então, até pra sempre, se eu não me engano. Eu que torço tanto pro céu ficar azul, e ele quase ficou até ontem, então, de repente acordo com saudade. Maldita saudade! Eu encontrei alguém, e estou seguro, vivendo honestamente uma vida correta de janelas quadradinhas, onde eu só espiava a liberdade pelas frestas, ou estava. E num dia ímpar qualquer eu acordo com saudade de ouvir tua voz. Eu até tentei te ligar, mas não vi motivos além da minha vontade ridícula e descarada gritando conselhos errados, que eu me torturei fingindo ser forte para não seguir. E se eu ligasse? E se você atendesse? E se? Não tenho o que te falar, você me deixou pra seguir em frente, não seguiu. Nem eu. Mas você rodou tanto em volta da corda que já não é mais possível desfazer os nós que ficaram. Nós nunca os desataremos, nem nos amaremos, não como antes. Vai ficar medo, receio. Se o céu abrir, ainda haverão uns restos de nuvens negras. E a gente tinha um céu tão lindo… Eu quando rasgo poemas, às vezes colo de volta, mas não é a mesma coisa. Poema rasgado sangra, eu sangrei também e você só sabia pedir desculpas. E pedia desculpas, e refazia tuas maldades que, acredito eu, foram despropositais, mas foram maldades. Não digo nem que cansei de você, pois eu ainda tenho muita afeição pelos nossos encontros às escuras, pelos nossos segredos, por tudo que nós deixamos de ser mas fomos um dia… Apesar de preferir saltar de um prédio de cento e setenta e dois andares do que confessar isso, eu confesso: eu seria todo teu outra vez. Talvez só por hoje ou pelo resto da vida, eu não sei, eu só acordei com saudade. O céu aqui tá escuro, o dia parece noite, e sem estrelas. E o teu céu? Você tem céu sem mim? Você tem o que sem mim? Aliás, o que é você sem mim? Eu até abri as janelas pra ver se chove um pouco aqui dentro e lava a alma, mas as nuvens ainda estão brincando com trovões, raios e relâmpagos. E você, tem um teto pra se cobrir quando a chuva cair? Eu estou cheio de perguntas sem respostas, de respostas guardadas e decoradas pras tuas perguntas. Eu estou cheio de saudade de nós também. Do jeito que pulávamos para a traseira do carro e nos amávamos loucamente, das músicas que você desafinava e do teu único dente tortinho que me chamava a atenção… Acordei hoje e entendi a expressão ”morrer de saudade” tão bem quanto havia entendido a expressão ”morrer de amores” quando te conheci. Não vou levantar da cama, não vou comer, nem me arrumar, nem vestir uma fantasia de felicidade falsificada, vou ficar aqui definhando uma morte lenta sobre o nosso breve amor. Amanhã eu vivo, hoje eu acordei com saudade. Amanhã o dia é par, talvez o sol até saia, hoje é sexta-feira treze, azar dos supersticiosos. Meu amor por você não tem superstição, nunca teve. Mas eu não estou feliz e como um péssimo mentiroso sobre como me sinto, vou encarar chuva e saudade pelo resto da manhã, pelo resto da dor, pelo resto da sala vazia e do não-saber-como lidar. Que dói é fato, mas a certeza de que isso vai passar é maior ainda.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 13/07/2012
Código do texto: T3775134
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