Olho de boi

Tenho trabalhado feito um maluco, na maioria das vezes nem vejo as horas passarem em meu viver. A correria é infernal, o trânsito enlouquecido me deixa em choque. São milhares de carros que trafegam por minha retina com seus pisca-piscas ligados, as buzinas frenéticas e disparadas me deixam zonzo. Por isto resolvi fazer algo diferente. Pedi licença do emprego, convidei uma amiga para sairmos da cidade.

Quando o dia amanheceu, já estávamos de pé, as malas prontas e o destino incerto. Quando dei na partida, o Jeep parecia saber onde nos levar. Acelerei com suavidade, deixei que nos levassem para fora do perímetro urbano. Quando percebi, estava próximo a um vilarejo chamado Olho de Boi, com poucas casas, ruas escuras, crianças brincavam em um campo de futebol improvisado – terra batida.

O que mais me chamou a atenção ao entrar na rua principal do povoado, foi um bar de quinta categoria, que mais parecia uma espelunca insalubre. Era tudo que eu precisava. A mesa de sinuca estava vazia, como todo o bar. Perguntei se podíamos jogar. O dono do estabelecimento acenou com a cabeça afirmando que sim. Pegamos os tacos e começamos uma partida. O homem nos olhavam de viés, como se nos analisassem dos pés à cabeça. A sensação que tive foi a de que éramos dois forasteiros obtusos e intrometidos.

Depois de várias partidas perguntei ao cidadão onde é que ficava a zona. Ele apontou para o lado direito de onde estávamos: não disse uma única palavra. Olhei para minha amiga e disse:

__ Então vamos para o lado esquerdo, o vagabundo deve vir por ali. Vamos esperá-lo com as armas a postos. Vamos atirar assim que ele aparecer, não podemos errar, é tudo ou nada. Vamos ficar entrincheirados em posição de ataque. Você vai se posicionar no teto do Jeep e eu, no chão, embaixo do assoalho. Vamos ficar o mais longe possível da última casa para que ninguém nos vejam. O pessoal da cidade não precisa ficar sabendo de nada. Quero que ouçam os tiros assim que terminarmos o serviço.

O dono do bar estava com os olhos arregalados e branco como uma vela.

Pagamos a conta e partimos para o nosso “esconderijo”, queríamos dormir sossegados. Escolhemos uma árvore frondosa e aconchegante, a sombra era enorme, o perfume de suas flores nos encantou como encantava os beija-flores ali aninhados. Armamos a barraca para o sono dos deuses. Enfim, a sós!!!

Quando dei por mim, ouvi passos que mais pareciam uma manada de búfalos, achei que era sonho, virei para o lado va-ga-ro-sa-mente. Minha amiga apavorada gritou:

__ Vão nos pisotear!!!

Levantei com as calças na mão. Quando abri a portinhola da barraca, vi que a população do povoado estava em massa ao redor do nosso acampamento, inclusive a primeira-dama, que exibia uma camisola desbotada.

Dei gargalhas mil e gritei:

__ Seus bostas vão dormir, pensei que vagabundo fosse só o Prefeito.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 12/07/2012
Reeditado em 01/11/2017
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