Estou trabalhando

Girlane saiu-se com essa. Sob uma forte chuva encrencou que tinha que ir à casa de sua amiga e prima Crislei. Na confusão formada, nem esperou Pedrinho, que estava enrolando para leva-la de moto na casa solicitada.

Muito chateada bateu porta, boca e saiu, pois segundo ela queria parabenizar a amiga pelo feito, de ter passado no concurso de pedagoga oferecido pelo Estado.

Sob protesto de quem estava na casa, alertando-a do perigo de sair de tarde sob chuva, ela não quis saber. Foi-se na direção da parada. Nem bem chegou foi pega juntamente com várias pessoas pela rapaziada.

- Bora passem todas as bolsas! Disse um dos assaltantes. Enquanto o outro saia arrancando cordão, relógio e celular de quem tinha.

Girlane mesmo nervosa, não pode deixar de expor a sua personalidade atrevida e no meio da multidão, aquela mocinha, com cabelos encaracolados, aparentemente indefesa e de vestidinho estampado gritou:

- Só podia ser praga da Rosa e do Pedrinho. Mas isso não vai ficar assim. E seguiu falando:

- Seus psicopatas! Vocês não tem outra coisa a fazer? Procurem roubar de quem tem e não de quem está juntado moedas para comprar o pirão da noite.

Atrás do pessoal a voz soou gritante. Os bandidos logo quiseram ver, quem era a dona de tal alteração. Um deles empurrou a turma. O outro fitando aquela menininha disse:

- Ô meu tu tem muita coragem!

E o outro respondeu: Tu tá muita enganada. Não estamos de bobeira, tamos trabalhando. Ô tu pensas que ladrão não tem família?...

No meio de todos esses verbos os futuros passageiros ficaram sobressaltados. Uma velinha até desmaiou. Um senhor de meia idade assentou-se no meio fio mais pálido que uma vela e os dois ladrões, diante dos fatos e com as mãos cheias resolveram montar na bicicleta e seguir Boca do Acre adentro.

Quando a polícia chegou ninguém sabia se denunciava, se ria, se se urinava ou se choravam. Girlane, que falou inesperamente, quando foi identificada pelo bandido ficou catatônica. Não andava, não falava, ou melhor, nem se mexia. Foi preciso o guarda levá-la até sua casa.

Alguns foi preciso a ambulância carrega-los e outros indignados, cidadãos respeitados faziam queixas, que não passaram das anotações dos guardas, pois as coisas jamais foram recuperadas.