ENCRUZILHADA DA MEMÓRIA
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Flávio apaixona-se por Catarina, paixão fulminante, arrebatadora.
Um, porém, casado com Lucia há dez anos, um filho, pediria o divórcio.
Toma coragem e diz tenho algo a dizer, ela olha o marido, e ouve a frase reveladora.
Ele mostra calma, daquelas que são presenciadas em uma mesa de negócios.
Não pareceu irritada, com a voz baixa e calma, perguntou o porquê da separação.
Evitou seu olhar, veio uma crise, esbravejou, jogou talheres no chão.
Gritou que ele não era homem, não a amava, e pertencia a outra mulher.
Sentiu-se mal, fez os termos do divórcio, deixando, casa, carro ações de sua empresa.
Na qualidade de esposa rasga o papel, dizendo que não era uma qualquer.
Tornara-se pessoa estranha, stressada, não cuidava da casa, não tinha mais beleza.
Coitada cai num choro, obsessão pelo divórcio, o fim estava mais próximo agora.
Dia seguinte, encontra a esposa na mesa escrevendo, nem jantou, foi pro quarto dormir. Passara o dia inteiro com sua nova paixão, Catarina.
Manhã seguinte, ela apresenta condições, só então aceitaria que ele fosse embora.
Próximos 30 dias viveriam juntos sem falar nada ao filho, viveriam como dois bons amantes, sem baixo astral, só alegria, pra cima.
O filho tinha exames na escola, não queria ele triste com o rompimento dos pais.
Acrescenta nos próximos 30 dias a carregaria para fora da casa todas as manhãs.
O marido sorriu, ela enlouqueceu. Atrasado, tem visita de negócios na beira do cais.
Na volta passaria no mercado, para comprar uma caixa de maçãs.
Contou pra sua amante, que fez deboche, gargalhando com a situação.
O casal, não tinha contato físico há tempos, carregou-a e achou totalmente estranho.
Filho aplaude, foi pra escola, mal continha as aceleradas batidas de seu coração.
Do quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, caminhou uns 15 metros carregando a esposa em seu colo, parecia algo insano.
Perturbado, apesar de não concordar, aceitou o pedido dela em não dizer sobre o divórcio com o filho. Colocou-a no chão, na porta da entrada da casa.
A mulher pegou o ônibus para seu trabalho, ele foi pensativo para seu escritório.
Pensou em fazer escondido de seu filho sua mala.
Lembrou alguns garotos que por algum motivo hoje vivem em reformatório.
Fácil para os dois. Apoiou-se em seu peito, ele sentiu o perfume que a esposa usava.
Percebera que há tempos não prestava a atenção a sua mulher, ela envelheceu rugas no rosto, cabelo fino e grisalho.
Porque tanto amor foi embora, tinha certeza que sua esposa ainda o amava.
Quando ela começou a, declinar, que fez pra ela ficar dessa forma, nesse estado.
Dedicou a ele dez anos de sua vida, quarto dia, confortável, com certa intimidade.
Cada dia mais fácil carregá-la. Os músculos acostumaram-se apesar da idade.
Certa manhã tentou escolher um vestido, estavam grandes, quando ele percebeu que a esposa havia emagrecido demais, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.
Com ponta de remorso, tocou sem querer em seus cabelos.
O filho acostumara ver o pai carregando sua mãe, perguntou, não vai carregar a mamãe hoje? Já estava virando rotina.
O garoto não era como tantos e tantos outros pentelhos.
Hoje a abraçou, a mão dela em seu pescoço, lembrou-se do seu casamento.
No ultimo dia, por algum motivo, quase não conseguiu mover suas pernas.
Não percebera desatento que perdera sobre a sua intimidade com o tempo.
Subitamente foi ao endereço que moraria com Catarina, disse não vou mais divorciar, meu casamento ficou chato porque não valorizei os pequenos detalhes de nossa vida, não foi falta de amor.
Ficarei com ela, até que a morte nos separe.
Recebeu tapa no rosto, ela bateu a porta, chorou, foi trabalhar amenizar a dor.
Comprou um buque de flores, e no cartão escreveu te carregarei todos os dias até que a morte nos separe. Deus que nos ampare.
Chegou com enorme sorriso no rosto, foi para o quarto, gritou – mudei de idéia, vou ficar pra sempre contigo, quero que você sare.
Deus eu estava errado, perdoa amor, vamos viver o presente, o passado não importa.
Sua esposa estava deitada na cama... morta.
Vinha se tratando há vários meses estava com câncer, sabia que morreria em breve, poupou o filho sobre o divórcio, aos olhos dele, seu pai era um marido carinhoso.
Pequenos detalhes nessas vidas, é que contam, e não mansão, carro, propriedades e dinheiro no banco.
Esses bens proporcionam conforto, sempre é tempo para ser amigo de sua família, gentil, franco, leal e amoroso.
Caso contrario, ficará na encruzilhada da vida, com devaneios mórbidos, pensando no que poderia ser, mas na sua sala, na memória, só em seu canto.


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BILLY BRASIL – 11-07-2012 – 20,18 HS – PQI – SBC- SP – terça.