O antigo bairro de Gragoatá, na Vila Real da Praia Grande, guarda segredos antigos e histórias misteriosas.
É conhecida a história de que Dom João, no Brasil ainda colônia, foi um dos primeiros cidadãos a ter no prosaico bairro uma casa. Sofria, segundo consta, de moléstias da pele, provenientes da falta de banho. Seu médico particular, naquela época um verdadeiro faz-tudo, recomendou que o paciente tomasse frequentes banhos de mar. Esperto, este cura. Através de um conselho honesto e eficaz, conseguiu com que o pai de Pedro I ficasse salvo da sua moléstia.
Ainda segundo o que se conta, a primeira casa ali construída era dele. Dom João teria sido o primeiro morador do bairro antigo e simpático, até hoje.
Dizem que ficou curado da moléstia; afinal banhos de mar de água limpa, Sol e alimentação saudável, nunca fizeram mal a ninguém.
O antigo bairro, todo calçado de pedras e mostrando construções também antigas, guarda seus segredos. As casas impressionam. Muitas são seculares. O bairro encanta.
Local onde está situada a Universidade, seus frequentadores são simpáticos, tanto professores como alunos. Gente assim dá vida a qualquer local. Surgem restaurantes cuidados, com boa comida e preços bem razoáveis, embora exista o restaurante do campus.
Foi neste antigo lugar que aconteceu um fato estranho. Numa velha casa, muito bem conservada e com um canteiro grande de girassóis, um professor de Física, conhecido e respeitado pelos alunos, passou por experiência inusitada.
Muitos alunos moram nas repúblicas do lugar. Estudam e estão bem próximos às salas de aula. Reúnem-se sempre, em algum bar que acomoda violões, flautas e cantadores. Não existe reclamação de nenhum vizinho. Não havendo abusos e a cantoria sendo sempre agradável, não há incômodos. Quando está calor, a velha praça serve de ponto mais acolhedor. Casais se beijam, carícias são trocadas, enquanto os seresteiros expurgam suas mágoas.
Todos ali conheciam o velho barbado que não largava o seu charuto. Era uma figura constante nestas reuniões de congraçamento. Sempre sozinho e sorridente, foi abordado um dia por um aluno mais curioso e amante da pintura.
Conversaram bom tempo. O homem era visto de quando em vez, na casa do jardim de girassóis, flores que de imediato fazem pensar em Van Gogh.
- Gosta dos nossos encontros, amigo?
- Muito. Vocês deram vida nova a um lugar que estava moribundo.
- E você, o que faz?
- Pinto paisagens.
- Vende bem?
- Dá para não passar fome. O rapaz, quieto e sem fazer comentários, cumprimentou o homem e foi-se embora. Reconheceu o pintor Castagneto, famoso marinhista falecido em 1900. Pintou toda a orla do antigo bairro. Não era o habitante da casa dos girassóis, talvez plantados em homenagem a Vincent. Muito menos, professor universitário.
O mundo tem histórias assim. Não acredita?
Um dia você vai acreditar…
Girassóis