Travessia

Laura abriu os olhos. Estava sozinha e cansada, mas alguma coisa a impelia a seguir em frente. A escuridão não a incomodava, já estava acostumada. Tinha um pouco de medo, claro, afinal, era a primeira vez que fazia aquele trajeto. Seguia seu instinto. Sabia que do outro lado estariam lhe esperando, já ouvia as vozes abafadas e distantes. Ouvia também alguns barulhos que não conseguia identificar e isso só aumentava a sensação de medo e ansiedade. Sabia, ainda, que eram pessoas especiais e que estavam ali para ajudá-la, se precisasse, mas nunca vira nenhuma delas... Eram desconhecidas.

Laura continuou sua trajetória mais empenhada ainda; tinha que se apressar pois não queria que se preocupassem demais com ela. Agora já conseguia enxergar uma luz adiante. Luz forte. Nunca tinha visto nada igual. Fechou os olhos... Gostava do silêncio, da escuridão, sentia-se aconchegada, mas estava na hora de agir. Havia chegado na etapa final da viagem. Por puro instinto sabia que tinha que seguir em direção à luz e é isso o que faria.

Laura estava cansada, muito cansada. Se não estivessem esperando por ela, com certeza desistiria e se deixaria ficar por ali mesmo. Mas não podia. Comprometera-se e não era pessoa de faltar com suas promessas. Parou mais um pouquinho e então, confiante, seguiu em direção à luz. Agora já não pararia mais. A angústia do desconhecido e a sensação de desconforto tinham aumentado, mas ela sabia que seria por pouco tempo; a única certeza nesse momento é que tinha que seguir em frente. Exausta, faz mais um esforço e arremete-se pelo caminho estreito. Não seria fácil...Ouvira dizer que alguns, poucos, desistem, mas ela não. Estava ficando cada vez mais ansiosa e a ansiedade a deixava mais exausta ainda.

Agora as vozes estavam mais perto e, de repente, no meio das vozes desconhecidas, consegue identificar uma, a dele...Ah, que alívio, ele também estava ali para recepcioná-la. Seu coração bate mais forte e um arrepio percorre-lhe a pele molhada. Não, não o conhecia pessoalmente, mas aquela voz já era sua velha conhecida, sentia que podia confiar nele. Sim, já confiava!

Pronto, agora é definitivo. Um último esforço e a travessia estará completada. Fecha novamente os olhos e busca um restinho de coragem...Já consegue ouvir as palavras de incentivo e encorajamento de todos e também as palavras de carinho que ele lhe fala.

Laura prende a respiração e arremete-se com ímpeto no último e mais difícil trecho. Está feito. Alguém lhe puxa e segura forte. Abre os olhos e vê então toda aquela luz e toda aquela gente lhe esperando. Com mãos trêmulas ele corta o cordão que a prendia. Emocionada, dá um grito de vitória e chora, alto e forte, aconchegada em seu peito.

**Homenagem ao nascimento de Laura, filha do querido amigo Eduardo Amos.**