Quem sabe...
Nos degraus do dia passava observando o tempo, ela e o mundo.
Tudo aos seus olhos vadios era poesia e dor. De olhos profundos, mãos brancas e um sorriso torto, meio morto talvez. Já tão guri ou piá como diria o povo do sul, carregava nas costas os segredos de uma vida.
Pena, pena que ela, uma alma ainda verde, não soubera colher daquela porta que os ligava todas as confidências que dele silenciosamente recebera. Maldita mocidade, maldita juventude. O quê diria o destino que ali os unira? Nada, nunca diz nada. Tão superior suas próprias linhas ignora, só as traça.
Um degrau a mais, outro mais. Os ponteiros indo embora. Partiu ao meio o sorriso já torto, o tempo. Pariu mais uma dor nas ruas, pariu. Como veio, partiu...
Ele bem que tentou avisá-la... Ela não ouviu.
Os olhos vadios cansaram-se das paisagens, cansaram-se do relógio, cansaram-se dos sonhos. Ele bem que tentou avisá-la... Ela não ouviu.
Os degraus vazios, a porta fechada, folhas nuas, as mãos cruzadas e o nada...
Ficou a garota no meio do caminho. Sozinha, arrastada pela vida. E ele... Tão alto subiu que não havia mais degraus a serem alcançados. Cansado, sentado entre o futuro e o passado, placidamente à espera que o destino dela se cumprisse e um dia num presente... Quem sabe, ela o ouvisse.