O Segundo Conto.

Estava sentado ali esperando por ele, no banco do parque. Era outono. Só pra certificar, amo as estações. Chão repleto de folhas e até umas flores dando o ar da graça por ali. Ventinho de leve, famílias passeando, fotos daqui, piquenique dali e eu só de olho no celular. Esperei muito tempo por ele, acho que esperei bem uns dezenove anos. E então não aceitaria sua ausência de minha vida. Eu era tudo, menos forte pra agüentar ausências. Aí ele chegou e sentou no meu banco. Pra começo de conversa eu adorei a atitude dele de chegar e sentar. Ele nem pediu licença! Eu suspirei. E então ele virou, disse o nome dele e ao invés de um aperto de mão, como fazem os rapazes, me deu um abraço. Tão logo eu me encantei. Aceitei o abraço e o guardei no meu bolso, pra quando a saudade incomodasse. O nome? Não lembro. Eu lembro que era Outono, ah como me lembro. E eu lembro também de um par de olhos castanhos e uma boca de lábios grossos e vermelhos em contraste com a pele absurdamente branca. Aqueles lábios disseram que era um prazer me conhecer. Eu disse que também. Levantei e o puxei pela mão. Fui com ele até perto do lago. Ele me falava sobre sua vida, seus amores perdidos, coração mais gasto que sola de sapato velho. Eu balançava a cabeça e ia acatando seus defeitos. Ele perguntou de mim. Me deu um desespero! O que eu falaria pra ele? Eu queria ser perfeito. Não falei nada. Na verdade, me limitei a dizer que não sabia ao certo, minha vida era só espera. Ele me abraçou outra vez. Gostava do jeito que ele abraçava. Era gentil, como se o abraço fosse um presente. E eu aceitava, como as pessoas aceitam os presentes. Tímidas, sem jeito. No meio da tarde, ele disse que sentia vontade de me manter em sua vida. Eu disse calma, é cedo demais. Ele disse que sabia, mas só queria garantir. E me abraçava toda hora. E foi assim, a tarde toda. Entre tantos abraços, ele foi entrando na minha vida. Eu vi seis horas se transformarem em seis meses. Comecei a pensar que passar a eternidade com ele seria bem divertido. Quando a noite estava pra chegar e um vento frio chiava as folhas das árvores, ele me deu seu casaco e disse que cuidaria de mim. Eu disse que não estava doente não moço, muito obrigado. E ele disse que não se importava, ele queria era cuidar de mim. Me fez prometer que eu inventaria doenças, só pra ele cuidar de mim. Perguntei por que tanto empenho. Ele disse que não sabia explicar. Disse que me viu e quando eu o vi, ele soube. Soube o que? Eu perguntei. Ele disse que não sabe, mas acha que era pra ser. Tipo eu dele, ele meu. E sorriu nervoso. No fundo bem fundinho ou nem tão fundo do meu coração e da minha consciência eu sabia o que ele queria dizer. Estava apaixonado. E no último abraço, eu transmiti minha paixão pelo brilho dos olhos, ou pelo menos tentei. Mas sei que consegui, porque eu o vi comemorar quando ia embora com o número do meu celular. Voltei a sentar no banco. Ele ligaria, ele viria, ia sentar sem aviso outra vez. Logo, abraço se tornaria beijo. Logo, paixão se tornaria amor. Se acabasse, eu não tinha nada mais pra fazer a não ser continuar sentado no banco do parque, olhando pro meu celular, esperando que um outro alguém venha. Afinal, eu não menti quando disse que minha vida era só espera.

Leo Freitas
Enviado por Leo Freitas em 01/07/2012
Código do texto: T3755484
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