Longe Daqui

"Impossível", disse a mim mesmo. "É impossível levar isto adiante sem diálogo".

- O que você tem? - Diz ela, escorregando a mão pro meio das minhas pernas e apertando meu saco.

- Nada. - Respondo, tirando aquela mão pequena e delicada das minhas partes pudendas.

Estamos sentados frente a frente num bosque. Estou recostado numa árvore enorme. Ela, linda. Ela, a primeira no vestibular mais fodido do Estado. Eu, todo errado. De roupa social, meio abatido depois de uma entrevista de emprego frustrada; duas faculdades abandonadas, desempregado, feio e burro. As pessoas costumavam dizer que eu era inteligente quando o que eu tinha era uma capacidade um pouco além de sentir e perceber as coisas - um tipo de inteligência que cedo ou tarde me poria na mendicância. Que não me serviria de nada. Sequer conseguia entender como uma criatura abençoada com beleza e a inteligência correta - a que a tornaria doutora em alguma coisa útil pra humanidade - perdia tempo comigo.

"Coisas do coração", diria um romântico.

"Sorte", diria quem não me conhece.

O problema era: eu estava apaixonado e melindrado. Queria saber de tudo, em que situação aquele relacionamentozinho estava; se era um namoro, se poderia virar um namoro, ou era só um passatempo. Mas ela era irredutível nas esquivas. Respondia minhas perguntas com um beijo, com uma chupada no pescoço, com uma lambida nos meus tímpanos. Eu, burro, me refestelava, lisonjeado por ter umas mandalas azuis tão lindas ora brilhando de ternura, ora faiscando de lascívia por mim. Ter aquela língua doce, demasiada molhada, sempre gelada, passeando pelo meu corpo. Aquele estalar daqueles lábios rosados, pequenos e carnudos... O clássico impasse do ter e não ser ou do ser e não ter.

Meu devaneio foi interrompido pelo movimento brusco da minha mão sendo guiada através da lateral de um short jeans. Lá estavam meus dedos sobre o tecido de uma calcinha, com toda a maciez aveludada do monstro carnal que arquejava debaixo dela aquecendo minhas falangetas.

Olhei ao redor. Poucas pessoas fazendo cooper; algumas, em grupos, fotografando os patos na beira do lago. Ninguém se importando conosco. Pus os dedos por baixo da calcinha e comecei a bolinação. A menina soltou a respiração com um sorriso lânguido. Continuei com a putaria, mas mais por condicionamento do que por vontade - não passaríamos daquele ponto, mesmo, por que me esforçar/empolgar? Com isso, vi que estava fazendo nada mais nada menos o que fazia com a minha vida.

E eu vivia pensando em suicídio.

Com um pouco de dificuldade, retirei as mãos daquele troço unguinoso e me pus de pé. Cheirei os dedos. O cheiro era impressionante. Lembrava Love Spell.

Abaixo, meu negócio apontava dolorido pro oeste da cidade. Paus traem os homens. Não são os homens que traem suas mulheres: são os paus que traem todos. Saco vazio é garantia de fidelidade.

- Preciso ir.

- Mas tá tão cedo. Fica mais!

- Sério, preciso ir. Estou com muita dor de cabeça.

- Sério? Quer ir lá pra casa? Fica lá até melhorar. Toma um remédio... Fode um pouquinho... Hum?

- Você é uma depravada, sabia?

Era difícil fazer o blasé com toda aquela disposição de coelha no cio que ela tinha, mas resisti; deixei-a na saída do parque mais próxima de sua casa - que ficava numa distância de 5 minutos de caminhada - e saí pelo portão do lado oposto e peguei o primeiro dos dois ônibus que eu precisava pra chegar até em casa, dali umas duas horas.

E passei todo o trajeto vendo miríades de vindouros fracassos iguais.

Aborrecido, com a cabeça batendo no vidro, vendo pessoas feias e barulhentas o tempo inteiro. A vida como ela é: superestimada. E feia.

28/06/2012 - 15h15m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 28/06/2012
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