Comprando Estrelas...
Manhã clara, de um azul mesclado ao doiro sol de primavera, com brisa cheirosa, fresca, macia; tocando pessoas apressadas presas ao tempo cronometrado, vida árdua, luta do dia a dia; vidas desconhecidas, das tantas gentes e ninguém, estranhos entre si, um vasto deserto habitado;
E entre estes transeuntes, um menino de pouca idade, franzino, e sorridente entre tantas expresões aborrecidas; segue atento olhando lojas por lojas, uma em especial procura, depois de contar e recontar as moedas e cédulas amassadas. Chega ao seu destino, entra numa loja, e todo seguro de si, do que deseja vai logo dizendo:
Hei meu senhor, pode vender-me um montinho de estrelas?
O dono da loja, um senhor sério, de pouca conversa, conceituado como o empresário ali, mais bem sucedido, por não desperdiçar, um só minuto de seu trabalho, ao que sempre orgulhoso diz em alto e bom tom “O tempo urge e tempo é dinheiro”, frase esta,preferida uma meta, sua oração. Achou estranho o pedido de seu cliente,ao que segue o enredo:
Ora vá!Não vendo estrelas, veja-as no céu
Não, não quero só olha-las no céu, quero leva-las pra casa, pra noitinha brilhar, brilhar no meu quarto, as quero bem ao meu lado assim, como um retrato de alguém que a gente não vê destes retratos de pessoa que a gente sente falta porque não volta mais; mas a gente pode sempre ter quando sentir saudades, assim, olhando os olhos, o coração, fica contente, entende? Assim quero as estrelas.
Eu venderia, se pudesse, mas veja , estrelas não se vendem
Estrelas são como, aves, livres, compreenda.
Compreendo, mas não quero avezinhas não, quero estrelas; disseram-me que tu vendes de tudo, até estrelas, então quero comprar estrelas.
Ai meu santo da paciência!Quem disse tamanha inconveniência?
Pois se aqui vendo flores, veja escolha, leve, dou-te de graça
Mas eu não quero flores,só quero um montinho de estrelas, nem precisa ser das maiores;aceito as mais novinhas, eu pago,vê, tenho dinheiro, pode vendê-las?
De que parte da terra você veio?Ou esta de brincadeira, não tem nada mais para fazer?Já disse não vendooooo estrelas;Não se vende estrelas, vá falar com Deus!
Com Deus não falo não, ele é muito ocupado, você sabe, o mundo
Esta doente acha que ele vai se importar, em me vender estrelas?
Tu que é o vendedor, pode vender-me?
Nestas alturas, o homem, que nem imaginara ver-se um dia em tal situação,já não sabia se esbravejava ou ria, o pobre todo descompassado já não tinha mais argumento diante do jovenzinho persuasivo, determinado ao que ali fora fazer. Então, veio-lhe uma célebre ideia,
Deixou o menino por uns instantes, e n’alguns minutos
Retornou com um livro antigo bem cuidado de capa dura, provavelmente fora de sua infância; e disse:
Veja, aqui tem estrelas, vou dizer para você o que uma diz
E lendo Olavo Bilac, "Via Láctea" e mais e mais
Poemas leu o vendedor para o menino, que encantado
Cabia-lhe todo fulgor das estrelas naqueles olhinhos miúdos, e á cada novo poema gritinhos,exclamava a alegria: Yes!, Yes!são lindas estas estrelas!
Viu como o senhor tinha estrelas,
O vendedor, tanto quanto o garoto sentiu a como nunca havia sentido,
Também as estrelas, já na alma, refletiam no olhar
Sentiu-se como aquele menino, em cada poema lido,regressando sua criança, fazendo o homem sério sorrir.
E o garotinho? Levou o livro, cheinho de estrelas..
Texto inspirado: Na frase de uma criança, á um vendedor
“Tio, o senhor tem estrelas?”
Não sei se eram estrelas do céu, mas ele queria estrelas; o que achei muito doce;.e lembrando O pequeno príncipe, de Antoine Saint Exupéry;meu livro preferido,ousei,escrever este texto..