Uma viagem inesquecível

Há algum tempo atrás, ganhei uma viagem para os EUA. Fiquei muito animado e fui logo arrumando as malas.

Tive uma viagem tranquila. Tirei muitas fotos. Fiz muitos amigos. Conheci uma gata legal. Voltei são e salvo. Bom... Isso é o que eu queria que tivesse acontecido...

No dia da viagem cheguei ao aeroporto, 2 horas mais cedo, de tanta ansiedade. Mas o vôo atrasou mais 2 horas e 30 min.

Durante o vôo, houve muita turbulência. O piloto teve uma convulsão e o avião quase caiu. A sorte é que o co-piloto foi rápido. Tirou-o do acento e administrou o avião antes dele se espatifar no chão.

Ao chegar, não estava nem acreditando que ainda continuava vivo. Ajoelhei e comecei a agradecer a Deus. Neste momento... Fui rendido. O assaltante levou toda a minha bagagem. Até os meus sapatos. Ainda bem, que eu ainda tinha mil dólares na cueca...!

Tentei pegar um táxi. Não consegui. Então, decidi ir a pé, procurar um abrigo. Até encontrar, quase fui atropelado duas vezes e passando por uma construção, um tijolo caiu no meu pé. Para completar, fiquei encharcado, por conta do carro que passou a 1.000km/h beirando um hidrante que estava jorrando água.

A pensão da D. Lúcia não era grande coisa. Na placa tinha letras faltando e outras tendo curto circuito. A porta de madeira tinha uma fenda enorme. Acho que alguém tacou um machado lá. Ao entrar, nossa. Tinha um gordo enorme com um shortinho e a pança toda cheia de batatas. Aquela barba mal feita e molho na cara quase me fez desisti.

— E pra onde eu iria?

O jeito foi ficar por lá mesmo. O gorducho se chamava John Lennon. Só poderia ser zuação mesmo. E ainda me tratou super mal.

— Dá pra acreditar que ele me cobrou 150 pratas por uma noite naquela espelunca?

Nem jantei de tanta raiva. O quarto fedia a urina. E adivinhem só, eu mal deitei na cama e ela quebrou. Mas eu estava tão cansado que dormi do jeito que tava.

De madrugada o FBI apareceu com uma denúncia de imigrantes ilegais. E tinham razão. Eu não era, mas meu visto juntamente com meu passa-porte haviam sido levados pelo assaltante. Então, fui obrigado a me esconder. Mas fui pego por um dos policiais. O cara era comprável. Então, tive de dar todo o restante do meu dinheiro e ele fingiu que não tinha me visto.

Na manhã seguinte, tentei vazar dali. Mas fui pego pelo John Lennon.

— Ai me desculpe, eu não consigo dizer isso sem rir.

E o cara me acusou de ter denunciado ele. O gorducho me deu um soco na cara e um chute na barriga que dói até hoje. E depois ainda tive que lavar todos os pratos e eu nem sei por que. Só sei que tinha mais de mil pratos.

Depois de quase o dia todo lavando pratos, tentei conseguir um emprego. Não foi fácil. Levei “não” o dia todo. E teve um que eu insisti tanto que o segurança me tacou na lama. Eu tive que dormir no banco da praça. Eu mal peguei no sono e lá vai o guardinha me cutucar com aquele cassetete.

— Fala sério!

No outro dia tive mais sorte. Passei por uma butique e a dona tava expulsando uma funcionaria. Corri logo e depois de me ajoelhar aos pés dela eu consegui um dia de experiência. Não demorou muito e entrou uma senhora horrível. Estava bem vestida. Mas deu a impressão de que o secador dela quebrou e aproveitou pra secar o cabelo em uma ventania.

Ela me pediu o batom mais caro. Um batom dourado.

— AFF!

E depois de passar, me perguntou como havia ficado. A vontade era de ser sincero. Porém, mostrei outro batom, num tom mais suave e disse pra ela tentar. Nossa, foi como se tivesse dado um tiro na mulher. Ela me xingou de tudo enquanto foi nome. Ainda bem que eu não aprendi palavrões na escola. E como havia de se esperar, fui despedido e por justa causa.

Desempregado novamente e sem dinheiro, eu dormi ao relento. Bom, até começar a chover tava tudo bem...

Depois de mais alguns “nãos”. Uma velhinha me empregou de faz-tudo num barzinho. E me deu um quartinho na dispensa. Fiquei lá dois dias. Ganhei 56 dólares. A senhorinha era muito boa. Mas ela amanheceu morta no banheiro. Teve ataque cardíaco.

Novamente estava sem rumo, e sem lugar para dormir. Encontrei um cara. Seu nome era Derick. Ele parecia um executivo ao falar. Mas do nada ele começou a gritar. E eu quase morri do coração. Saí de fininho enquanto pude.

Sentei num banco. Logo apareceu uma garota. Ela era legal. Mas sem noção alguma.

Toda vez que íamos conversar ela se perdia no assunto. Parecia que só ouvia a última parte e me deixava confuso. Do nada, me tascou um beijo daqueles e como ela era muito gata correspondi. Dormi na casa da doidinha. E só no dia seguinte descobri que o seu nome era Katie. E só por que o pai dela subiu as escadas gritando. Me vesti o mais rápido que pude e de qualquer jeito e pulei a janela.

— Ual, minhas costa ainda se lembram disso.

Finalmente encontrei um cara em sã consciência. Até me ofereceu moradia. E me arrumou um emprego com ele, de pintor.

Meu trabalho foi pintar as bordas de uma janela. Clarck me disse que de maneira alguma eu devia manchar o vidro.

— Qual é! Isso é moleza.

Na primeira pincelada, adivinhem...

Ele fechou os olhos e balançou a cabeça. Eu tentei forçar um risinho pra quebrar o gelo. Não disse nada além de “VAZA” e trocou de lugar comigo, cobrindo meu erro.

Chegando a casa levei um susto. Era tudo tão... ROSA. Aí que eu me toquei. Ainda bem que não sou preconceituoso, mas fiquei apreensivo.

Depois de uma ducha demorada eu sentei no sofá da sala e ele me apareceu com uma bebida louca que ia tequila, rum, e um monte de coisa. Até que não era ruim... Depois eu disse que precisava voltar para o Brasil. E como tinha sido assaltado, não tinha dinheiro, nem passa-porte. Clarck mencionou um tio que poderia me ajudar com o passaporte. Fiquei meio desconfiado, porém, era o jeito mais fácil. Fosso de carro. E quando desci a porta entortou pra baixo, ele arrancou com tanta força que a porta deve tava voando até agora. E o malandro nem disse tchau...

O tio se chamava George. Vivia rindo. Não sei por que. E quando eu ria junto ele perguntava qual era a graça.

— Eu Hein!

Mas o maluco resolveu o meu problema e me deu o dinheiro da passagem. Apesar de nos documentos eu ser negro...

No mesmo dia comprei as passagens pela internet.

Cheguei ao aeroporto com apenas 4 min para a decolagem. Tive que correr para fazer o check in . Cortei fila esbarrei em quase tudo que pude. Pra completar, a moça não tava acreditando que aquele passaporte era meu. Tive que dizer que eu tive vitiligo, A doença do Michael Jackson pra consegui. Mas por alguma razão sinto que ela não acreditou. Depois fui berrando enquanto corria atrás do avião. Ainda bem, que eu consegui embarcar. Senão teria um enfarte.

No avião, sentei ao lado de uma moça muito linda. Pensei que finalmente a sorte tava sorrindo pra mim. Aí um garotinho atentado passou com uma garrafinha de catch-chupe e jogou na minha camisa. A única que eu tinha. E ainda por que o Clarck me deu. Fui me limpar querendo esgoelar o moleque. No meio do caminho tropiquei e a mulher achou que eu estivesse tentando ver a calcinha dela e me deu um tapão. Ao entrar no banheiro, a porta travou. Gritei, gritei, gritei. Ninguém me ouviu. E fui assim à viagem toda.

Quando cheguei no aeroporto de Campo Grande, desabei no chão nem acreditando que eu tava quase em casa. E todo mundo ficou me olhando beijar o chão com os olhos arregalados.

Finalmente eu estava em casa. Minha vó achou que eu fosse um assaltante e me deu várias vassouradas, senão fosse a minha mãe, eu tava mortinho. Apesar de que ela também custou acreditar que fosse seu filho. Realmente a coisa tava feia. Eu parecia um drogado ou sei lá o quê com aqueles olhos vermelhos. O cabelo nem se fala. Tirando a roupa toda manchada de molho e suja de terra. Preocupada ela me perguntou por que eu estava daquele jeito. Só disse que nunca mais voltaria aos EUA e fui direto pro meu quarto.

Dayane Matos
Enviado por Dayane Matos em 27/06/2012
Código do texto: T3747361
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