Sábado à tarde
Após deixar os amigos risonhos no ônibus cheguei ao meu destino.
Subi aquele morro, virei à esquerda. Acompanhada ou não, tanto faz. Não pela importância da companhia em si, mais pelo grau de introspecção que experimento sempre que vou a este lugar.
Um jardim, sem flores por enquanto, apesar do início da primavera.
Uma pessoa era isso. Um espaço de dois por um e meio. Grama ladeada por um concreto pobre com imitação de granito. Talvez seja de verdade. Que diferença faz? Algo escrito para identifica-la. Nome, datas. Uma estrela e uma cruz. Se ela pudesse levantar veria o mar de sábado azul. Tarde quente e solitária para sempre. Não consigo supor outras atividades se ainda existisse esta pessoa. Isto me dói. Poderíamos estar aonde, fazendo o quê? Talvez a dor me impeça de saber. Ou de entender porque este dia ensolarado me pareça tão intransitivo. Conjugado errado e, portanto, vazio de significado.
A visita me faz sentir bem, apesar de tudo. Sinto uma aproximação imaginária, simbólica, porém obviamente impossível de uma pessoa-pó da qual eu vim. Nunca mais fui visitá-la, me sinto estranha em ir sozinha, apesar disso não fazer muita diferença quando lá estou.
Este sábado foi o último em que vi minha mãe.