O Barba ruiva Parte-3

-O que este homem está fazendo aqui?_Indaga Maria Cristina,segurando-se ao sue último fio de esperança.Não mais uma esperança de ver tudo sendo transformado divinamente,ou então de o bom senso do pai(se é que ele o tem) o faça perceber a loucura que é esse trato de pena de morte,mas sim a esperança de que sua força e sua bravura lhe deem a capacidade de lutar,e a sorte de vencer a luta.

-Não se faça de tonta-O coronel Armando ia abrindo caminho entre as duas paradas ao fim do corredor,na entrada da sala.Desvia dos cacos de porcelana,quebradas por Aurélia na hora do susto,e se aproxima de seu genro,genro ou sócio? -Você sabe muito bem quem é ele,e o que faz aqui.O senhor Andrey Va...Vla,...

-Vlasov!-Atalha o orgulhoso barba ruiva.

-Eu já disse que não me caso.-Se aproxima de Andrey.A vontade que tem é de se ajoelhar em súplica,e alguns dias antes até o faria,mas agora não,agora jamais.-Olhe aqui senhor Andrey:Eu não faço ideia do que o meu lhe prometeu,mas eu não posso me casar,eu não vou.

-Cale a boca!Eu já lhe disse que vai e assim será.O que eu e o senhor Andrey temos aqui é um acordo,e você gostando ou desgostando,é assim que será.

Maria Cristina,cansada,com raiva,morrendo por dentro,chorando por fora sente o mundo desabar á sua volta.sua visão não é mais agora do que um monte de imagens embaçadas,mas mesmo assim ela consegue perceber quando o pai ao pé do ouvido de Aurélia ordena algo a criada,que após já ter recolhido os cacos do chão entra pelo corredor correndo,na certa irá buscar alguma coisa.algumas coisas,por que demora.

-Aqui está coronel,como eu havia lhe prometido,á vista,nem um centavo a menos.

Entregava á Armando um bolo de notas,resultado da venda de Maria Cristina é claro,a vendia como vendia duas sacas de café,a vendia para paga-las pagar seu prejuízo,recompensar a perda e evitar a falência.

"Maldito café" Pensava ela.Se já não valessem mais nada,iria ela mesma colocar fogo na safra toda,mas agora não,agora estaria ajudando seu carrasco,agora não,quem sabe depois...

Via agora(coim os olhos mais limpos.limpos pelas lágrimas) a figura pequena e subnutrida de Aurélia entrar pela sala,com duas malas grandes de couro nas mãos,só Deus sabe o quando devem estar pesando."Pobre Aurélia" Pensaria assim fosse outro o momento,agora não.Agora era "Pobre de mim" ou "Pobre Maria Cristina" vendida como café,valendo menos do que ele que vai e volta,é colhido,mas cresce de novo.Ela não,ela só tem uma vida,e essa esta por acabar prematuramente a qualquer momento.Não mais pelo disparar fenético de seu coração aflito,mas pelas mãos de seu próprio pai,pelas mãos daquele que lhe deu a vida,junto daquela que lhe amou muito,muito por pouco tempo.Amou muito,porque amor não vê tempo,amou muito em pouco tempo,muito mais do que seu pai a amou até agora ou a amaria em mil anos.amou muito porque amor não espera,amor se mostra,em qualquer momento,até quando for,até o fim,se realmente há um fim para o verdadeiro amor.

-Pronto.Agora a peste aí é problema seu!-ria como se falasse de um cachorro incomodo,incomodo mas valioso,capaz de salvar suas finanças,suas finanças,sua vida,dava no mesmo.

-Pelo amor de Deus meu pai.-Agora se ajoelhava,agora nada mais importava agora tudo valia,agora tudo podia.-Pelo amor de Deus não faça isso...Não me deixe ir com esse homem,não me faça uma coisa dessas meu pai.Eu sempre lhe amei tanto,e se o senhor não sente o mesmo por mim,eu não sei por que e também não me importa mais.O que eu quero é a sua pena,é a sua compaixão que eu sei que existe...A minha mãe era uma mulher boa de mais,e pra ela lhe amar e casar com o senhor ela devia lhe amar ,e se lhe amava algo de bom o senhor deve ter.

Aurélia chorava num canto,um silêncio estranho tomou conta da sala.

-Se você quer saber mesmo eu lhe respondo pro que sua mãe casou comigo.Casou comigo porque foi obrigada,vendida feito você ta sendo agora...Se não tem mais o que chia vá se embora que eu tenho mais o que fazer.

-Desgraçado!-Agora gritava.gritava e chorava,mas chorava de raiva somente.-Velho desgraçado...Eu quero mais é que o senhor e esse seu café vão pro inferno,pro inferno!

-Tire logo essa praga daqui antes que eu me descontrole senhor Andrey,ela agora é problema seu.-A raiva lhe tomava a face,o sangue lhe subia pelos olhos.

-Vamos logo menina-Puxava-lhe o barba ruiva.Puxava-lhe como se puxasse um animal de seu rebanho.-Adeus seu coronel.

-Boa sorte,o senhor vai bem precisar!

Maria cristina nem mesmo se lembrava de como havia chegado ao novo quarto,á nova casa,estava morta por dentro,mas já não chorava por fora.Nem de raiva nem de tristeza. A casa do Barba ruiva era talvez ainda mais luxuosa do que a de seu pai,mas era demais escura e pouco se enxergava o que ali havia.

-Eu vou dormir em outro quarto por enquanto,até você se acostumar com as coisas.Até lá esse quarto é o seu.Se ajeite,depois lhe chamo pra jantar.

-Não to com fome!!

-Pois precisa comer.

-Se me enfiar comida pela garganta,por ela mesmo eu devolvo na mesma hora.Já disse que não tenho fome,mas se quiser insistir...

-Se não que comer o problema é seu,só não venha reclamar depois.

-Eu não pretendo lhe dirigir tão cedo a palavra.

Andrey a olhou por um instante.era linda,linda e selvagem.Trancou depois a porta pelo lado de fora e saiu com a chave no bolso da calça de lã azul.

no quarto Maria Cristina sentia se cada vez pior enquanto olhava o por-do-sol,pior mas mais calma.

Dormiu muito pouco.Ouviu gritos socorros,choros e ruídos de desespero,na certa era sua imaginação pedindo socorro sabe se lá para quem.

Ouviu também uma gaita,essa não era sua imaginação.Quando resolveu ver do que se tratava já passava das duas da madrugada com certeza,e entre medo e curiosidade deslisou a cortina rente a parede e encheu seus olhos de cor,brilho e calor.Aquilo não via na casa do barba ruiva que era escura fria e cinzenta.uma fogueira subia como se tentasse alcançar a lua,a lua ou o coração de Maria Cristina.Seria aquilo um sonho?um sonho ou sua salvação?

CONTINUA...

Diogo Machado
Enviado por Diogo Machado em 17/06/2012
Código do texto: T3729362
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