O Barba ruiva Parte-2

Maria Cristina sentia gotas de suor rolarem-lhe a face gelada de medo,e de medo paralisada.De medo e de raiva.

-Se ajeite logo,não fique aí parada.E você Aurélia,venha comigo,você vai servir um café para a visita.

Os dois saíram e Maria cristina sentiu-se ainda mais sozinha,mas agora nada adiantava.Seu noivo estava lá,aquele era seu futuro,seu destino e sua condenação.Ao entrar pela sala porém algo diferente possuiu sua alma.uma esperança.uma alegria,uma alegria tão grande que não se conteve em seu interior,e se derramou por fora também,na forma de um sorriso,um belo e sincero sorriso.

-Meu irmão.-O abraçava com força.Abraçava sua esperança,sua última salvação.-Que bom que você veio,eu preciso tanto falar com você.quando o pai falou que eu tinha visita eu pensei...

-Que fosse seu noivo?

Então ele já sabia de tudo.Melhor.Não precisaria enviar a carta,o risco de ser pega já não corria mais,a final se ele estava ali e sabia do casamento forçado,só poderia ser para convencer de qualquer forma o seu pai de que isso era insano,desumano.O coronel podia ser tudo quanto é ruim,mas respeitava gente sagrada e sendo ele seu filho mais velho então...

-Então você já sabe meu irmão?

-Eu mesmo lhe contei,fiz questão que ele viesse,pra ajudar na cerimônia.

-O que?-Um gosto amargo possua sua boca.Maria Cristina voltava a sentir que seu coração lhe romperia o peito a qualquer momento-Então você está de acordo,você ta ajudando ele a me mata,a me entrega pra esse monstro?

-Olhe bem minha irmã,as coisas não são assim...

-Não são assim por que não são com você...Padreco de nada,imbecil,cachorro do demônio!

Maria Cristina desferiu todo seu repertório de xingamentos(pelo menos os próprios para uma moça de família) dando preferência aos que ofendiam a "santidade" do seminarista.

"Padre dos infernos"

"Ajudante do capeta"

"Filho do cão,desgraçado..."

Com isso se retirou,trancou-se no quarto já sem esperanças.sem salvação,sem vontade de se salvar.Por um momento até mesmo pensou em voltar e pedir desculpas ao irmão tão querido,mas foi somente preciso imaginar aquela barba ruiva roçando-lhe o rosto delicado,quase infantil,e o cheiro de rum impregnando suas narinas que ela sentiu mesmo vontade de falar todo os palavrões que restavam de, seu admiravelmente variado dicionário.(aqueles que não cabiam a uma moça de família,mas que importava?Para o inferno com tudo!)

O escuro do céu rompera duas vezes a claridade duas noites passou sem comer,pouco dormindo,muito pensando,chorando de mais."As lagrimas não se acabam?" Pensava ela já cansada.Se as lagrimas acabam isso ela não sabia,mas que a dor que sentia era infinita isso era.

Diversas vezes,até mesmo no meio da noite,Aurélia lhe batera a porta oferecendo comida,água,ombro para chorar,mas nada ela queria,ou somente uma coisa ela desejava: A LIBERDADE.

Maria Cristina já não fazia ideia de quanto tempo ficara ali,calculava orgulhosamente quase uma semana,não haviam passado nem mesmo três dias.De qualquer forma a sua "pausa para meditação" foi bruscamente interrompida logo por seu pai,que com uma chave mestra entrava possuído por um ar de superioridade,por uma vontade de mostrar quem era e o que podia,(a pesar de falido).

-Pensou que eu num ia consegui entra aqui é?-Sorria,como sempre sádico.Maria Cristina só soubera do tal noivo,a quem todos chamavam de Barba ruiva(poucos realmente sabiam seu nome) pela boca do povo,mas diziam-lhe mau,cruel,tenebroso...De qualquer forma seria sair de um inferno para outro.seu pai não tinha uma barba ruiva,mas nem precisava dela para botar medo em alguém.

-Se o senhor podia entra,por que só agora que veio?-Ele se mostrava superior,e ela também,sentia-se dona de si a pesar de tudo aquilo,não temia mais nada,jogara sua sorte ao vento e ás mãos de um tal a quem tantos pedem e chamam de Deus.

-Eu queria ver quanto tempo ia dura essa sua frescurada aí,mas pra mim já deu.

-E o que o senhor quer de mim meu pai?-Também Maria Cristina sabia ser sádica,seria isso hereditário?quem sabe?

-Quero que ande,apena isso.Que ande até a sala,que quero lhe falar.

-E por que não fala aqui?

-Por que quem te manda sou eu!

Não respondeu,preferiu calar.calou muito,calou todo o corredor que mais parecia um labirinto,calou de mais.Calou até ver o que viu, aí gritou,gritou de mais.

-Ah!!!!

Da entrada da sala,ao lado de Maria Cristina,aurélia deixara cair uma bandeja também assustada.Assustada por quem,por que?Pelo mesmo que Maria Cristina,ou pela relação da senhorinha?

CONTINUA...

Diogo Machado
Enviado por Diogo Machado em 17/06/2012
Reeditado em 17/06/2012
Código do texto: T3728399
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