O Barba ruiva Parte-1

Maria Cristina via o sol sumir,a tarde morrer diante de seus olhos e através da enorme janela do quarto de estilo colonial."Será só o que nos sobrará" Pensava ela entre o conformismo e a vontade de se revoltar.Seria capaz de tudo para sair daquela situação,tudo?Tudo,menos se casar,se casar obrigada é claro.Mas também...Quem se casa em situação de emergência pro amor ou por carinho?No máximo por pena,no caso dela por necessidade.Mas fugiria,fugiria dali,fugiria do problema e da solução que mais problemática ainda surgia para ela,como uma sentença de morte,como prisão perpétua.

-Eu trouxe o seu jantar menina,trouxe,mas bem trouxe foi escondida,que se fosse pelo vosso pai,a menina morria de fome.

-De fome eu não morro não Aurélia,morro de raiva,de raiva e de desgosto.-dizia enquanto tomava ávida a bandeja da mão da pequenina empregada,magricela,passaria facilmente por criança(uma criança subnutrida é bem verdade)caso não fosse alvejada de rugas e cicatrizes,pro todo o rosto cansado.

-Você viu o que ele quer me fazer Aurélia?Quer me casar com o russo...Quer me casar só pra se salvar da crise.Mas agora me diga,que culpa eu tenho se ele não soube em toda essa bendita vida dele fazer outra coisa se não plantar mais e mais café.E que culpa ainda tenho eu,se lá nos Estados Unidos,uma terra estranha que eu nunca vi,a não ser em fita,ta correndo uma crise desgraçada,o que eu tenho com isso?

-Vosso pai disse que tem homi aí que anda até tirando a própria vida...Prefere o inferno do que a pobreza.-Aurélia se sentava na cama ao lado de Maria Cristina que se dividia entre comer e protestar,protestar e comer.

-Inferno...Inferno que via passa sou eu pra livra a pele dele.

-Te esconjuro! Eu é que não queria ser a menina nessas hora.Tudo bem que eu até hoje não achei um homi capaz de me querê-Fazia uma pausa,pensava na vida,tão triste,tão seca...-Mas com aquele russo de cara azeda que eu num casava,parece até lobisomi com aquela barba cumprida,só faltava se preta invés de ruiva.

-O que é que eu faço Aurélia,me diga.Se fosse no tempo de minha mãe quem sabe,eu tenho certeza que ela achava um solução,mas nunca que ia me deixar desse jeito.

-sua mãe sim era um anjo,agora vosso pai...-Calava para não perder o emprego,estava cansada,gostar não gostava,mas precisava,isso sim.

-Minha mãe morreu...Só me sobrava meu irmão Fernando,mas com ele lá no seminário da capital,tão longe...ele sim meu pai era capaz de ouvir,ele respeita gente santa,e sendo o filho mais velho então...

" Nunca vi de diabo respeita padre"-Pensava Aurélia.Pensava e ria.(por dentro é claro)-Por que a senhorinha não manda uma carta pro vosso irmão,assim é bem capaz que ele venha intercedê pela senhora.

-È isso mesmo Aurélia.-Maria Cristina deixava a bandeja de lado,comera quase tudo,senta-se então diante da escrivaninha,e com uma caneta tinteiro(presente de Nando)-rabisca sua carta,sua última esperança em forma de súplica,assinada com tinta,e rubricada com lágrimas.-Deus quera que ele receba logo,e venha mais de pressa ainda Aurélia.Eu tenho nele meu último recurso,o último fio de esperança.Eu não consigo nem imaginar em como vai ser horrível viver junto com aquele homem para o resto da minha vida.

-E eu não sei?dizem que o homem é o cão...As mulher dele que ninguém sabe que sumiço deu,diz que ele comeu.E comeu mesmo,de mastiga e digeri com chá de de carqueja depois...

-Não me assuste Aurélia!

-Descurpa menina,eu só repito o que esse povo fala.Pra mim ele come é criancinha que nem os parente russo dele.Diz que lá na terra dele criança é como carne de gado,comem mesmo,diz que até ensopado eles cozinham pra esquenta naquela frieza desgraçada.

O coração de Maria Cristina batia num ritmo descompensado,explodiria em alguns minutos.O susto de ouvir a voz ameaçadora de seu pai porém,lhe fez voltar ao normal,como um choque de alta voltagem.

-O que que ocês duas tão cochichando aí ás escondidas?

Um silêncio tanto constrangedor quanto perigoso enche o quarto,deixando a pergunta no ar como uma partícula de poeira que poderia provocar uma grande alergia.

-O gato comeu a tua língua Maria Cristina?

-Quando me mandou de castigo pra cá pro quarto feito criança,voc..O senhor mandou que eu não respondesse.

-Ta brincando comigo não é...Pois eu quero é ver se você vai achar graça do que eu vou lhe falar agora.Se arrume,se arruma porque tem uma visitinha pra você.-O sorriso sádico contornava-lhe os lábios,parecia mais um feitor prestes a castigar um escravo capturado após a fuga,do que um pai diante de uma filha.

CONTINUA...

Diogo Machado
Enviado por Diogo Machado em 16/06/2012
Código do texto: T3727815
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.