O chaveiro
- Esqueci a chave!
Madalena ainda continuou procurando entre suas coisas, e nada.
- E agora? Como vamos fazer para entrar?
- Hoje é sábado – disse Rafael. - Vamos para a cidade, deve haver um chaveiro aberto por lá.
Eram novos no local e ainda não conheciam muito bem a cidadezinha, por isso precisavam perguntar a algum morador local sobre o serviço de que necessitavam. Encontraram um rapaz caminhando pela rua, pararam o carro e o abordaram.
- Por favor, moço... O senhor conhece algum chaveiro por aqui?
O rapaz pensou um pouco e respondeu:
- Na praça do coreto, à esquerda da igreja, terceira casa. Uma casa antiga, azul, com uma porta de ferro bem alta e uma argola dourada.
Chegaram à praça, pararam o carro e logo encontraram o local descrito. Rafael deu três batidas com a pesada argola sobre a porta e alguns minutos depois um simpático senhor, de barbas brancas, veio atendê-los com um sorriso.
- Pois não?
- Bom dia, senhor... Bem, nós viemos passar o fim de semana na chácara, mas esquecemos de trazer a chave do portão de entrada. Será que o senhor poderia nos ajudar?
-Claro, respondeu ele. Um instante, por favor.
O homem entrou e saiu depois de alguns minutos trazendo uma caixa. Trancou a porta da casa e disse ao casal:
- Vamos?
Pegaram novamente a estrada de terra e rapidamente chegaram à chácara. O homem saiu do carro e olhou emocionado para a frente da propriedade.
- Ah... a Chácara Paraíso!
- O senhor conhece? – perguntou Madalena.
- Sim – respondeu ele, com um sorriso. – Fui caseiro desta propriedade há muitos anos atrás, e durante muito tempo. Conheço como a palma da minha mão – disse, olhando comovido sua mão direita espalmada.
Sem dizer nada, voltou ao carro e pegou sua caixa de ferramentas. Que até então era o que o casal imaginava que fosse, mas, ao invés de chave de fenda ou alicate, o senhor de barbas brancas tirou de lá um imenso molho de chaves de todos os tamanhos e formatos, algumas muito antigas.
Durante alguns minutos, ficou examinando cuidadosamente as chaves, até que se decidiu por uma delas. Colocou-a na fechadura, girou-a e o portão se abriu com facilidade.
Rafael e Madalena entreolharam-se, desconfiados.
- Muito obrigado – disse Rafael, sem sorrir. – Quanto lhe devo?
- Nada – disse o homem, sorrindo novamente. – Fica de cortesia, há muito tempo queria fazer isso.
E entregou ao casal seu cartão de visita, saindo vagarosamente. O casal, confuso, ficou acompanhando seus passos.
Assim que ele saiu de suas vistas, rapidamente entraram, afoitos, conferindo se tudo estava no lugar. E estava.
- Que estranho... disse Madalena. – A fechadura foi trocada há um mês, na última reforma, por um chaveiro da capital. Como pode ser...
Foi então que olharam o cartão. Nenhum telefone ou endereço, apenas duas palavras:
PEDRO - CHAVEIRO
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Este texto faz parte do Exercício Criativo "As chaves do Paraíso".
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