FUSÃO

Eu estava sentado no meio da sala vazia, quando a menina entreabriu a porta e me espiou.

Ela deveria ter uns quatro anos e usava um vestido floreado com alças em tope sobre os ombros, que descia justo sobre o tórax até a cintura e então se abria numa saia pregueada estendida até um pouco acima dos joelhos. Os cabelos castanhos encaracolados e compridos até os ombros, emolduravam um rosto redondo e angelical, onde olhos azuis expressavam curiosidade e surpresa pela minha presença.

Permaneci sentado e convidei-a a entrar.

Ela apenas abriu um pouco mais a porta e continuou a me fitar, desconfiada.

Pausadamente, com a voz embargada pela emoção, disse-lhe quem eu era e a razão de eu estar ali.

Por um longo tempo ainda, ela permaneceu parada no vão da porta, a mesma expressão de desconfiança no olhar.

Esperei com paciência e em silêncio. Depois, estendi-lhe a mão. De forma reticente, caminhou em minha direção, com passos curtos e lentos, sem deixar de me olhar diretamente nos olhos.

Quando chegou junto a mim, a surpresa dos olhos havia dado lugar a uma ternura que eu jamais vira algum ser humano expressar.

Subiu para o meu colo, recostou a cabeça no meu peito e eu a abracei ternamente.

Assim ficamos os dois ali por toda a eternidade.

Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 13/06/2012
Reeditado em 26/10/2012
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