FUSÃO
Eu estava sentado no meio da sala vazia, quando a menina entreabriu a porta e me espiou.
Ela deveria ter uns quatro anos e usava um vestido floreado com alças em tope sobre os ombros, que descia justo sobre o tórax até a cintura e então se abria numa saia pregueada estendida até um pouco acima dos joelhos. Os cabelos castanhos encaracolados e compridos até os ombros, emolduravam um rosto redondo e angelical, onde olhos azuis expressavam curiosidade e surpresa pela minha presença.
Permaneci sentado e convidei-a a entrar.
Ela apenas abriu um pouco mais a porta e continuou a me fitar, desconfiada.
Pausadamente, com a voz embargada pela emoção, disse-lhe quem eu era e a razão de eu estar ali.
Por um longo tempo ainda, ela permaneceu parada no vão da porta, a mesma expressão de desconfiança no olhar.
Esperei com paciência e em silêncio. Depois, estendi-lhe a mão. De forma reticente, caminhou em minha direção, com passos curtos e lentos, sem deixar de me olhar diretamente nos olhos.
Quando chegou junto a mim, a surpresa dos olhos havia dado lugar a uma ternura que eu jamais vira algum ser humano expressar.
Subiu para o meu colo, recostou a cabeça no meu peito e eu a abracei ternamente.
Assim ficamos os dois ali por toda a eternidade.