LEÃO (desertos...)
Vi no horizonte tênue luz.
Ao longo do caminho paira a escuridão.
Sôfrego, entristecido, caminha um leão.
Olha o deserto.
Vazio ou cheio, não importa.
Bate a fome, enrobustece-se seu desespero.
Sonha solitária figura; sacode sua juba; régia imposição.
Embora fera, se desespera...
Antes água farta, hoje areia e pó.
Sente-se só...
O sol, hoje companheiro insólito, rega miragens, devaneios...
Cai, rola em frenesi... Inebria-se...
Desenha em nuvens arenosas majestosa visão...
Felino, ontem tão forte... Hoje tão frágil criatura.
Sabe que a natureza, implacável mãe, fez-te grande, faminto, inteligente.
Parece que em teus olhos correm rios de lava, impunha-te pelo seu fulgor.
Por isso, não se rende à dor.
Chora, cai, bravamente resiste.
Insiste...
Sonhava com dias gloriosos...
Hoje, pesa-te a juba...
Reina, cambaleante, nas areias que cintilam...
Orgulhosamente... tomba com sua coroa...
Sobe ao céu um rei...
Desce à terra um anjo...
Chora, em nuvens ao longe, sábia natureza.
Chega tarde o milagre de quem a todos fez.
Com ele renascem as pequenas criaturas...
A vida que se renova, canta a quem piedosamente, age e embeleza as areias que em flor relutam pela eterna ânsia de ver-viver.
(Marcio J. de Lima em 30/05/2008).