DIVAGAÇÃO

Não consigo achar meus óculos. A memória mais uma vez uma vez me prega uma peça, haja paciência! É só um par de óculos, mas, desde quando eu ainda sabia ler sem eles, onde guardo as coisas é um enigma. É tão fácil lembrar e eu só sei guardar pensamentos. Tenho de prestar a atenção aonde deixo minhas coisas, isso sim. Tenho de imaginar onde deixo meus óculos, deveria ter imaginado na hora de guardar em qualquer canto, depois era só lembrar. Não fosse o remédio - que horror aquelas letrinhas miúdas- às favas com eles. Como se falar mal resolvesse! O médico me disse que era prudente carregar algum comprimido no bolso: também esqueci. E aqueles versos do Quintana? Como ele pôde igualar a felicidade aos óculos inutilmente procurados por uma velhinha que os traz na ponta do nariz. Pois bem, lembra-te de um poema e esquece os óculos? Outro tema batido: poema ou um par de botas... Aqui não, não está, pela terceira vez, não. E dialogas, ah, como se fosses não sei o que. Nada, qual nada, não há de ser nada, só um aperto até encontra-los e depois a maratona em busca dos remédios. Há tempo, calma, um descanso no sofá. Um tempinho. É só não pensar. Tu pensas demais e no final esqueces. Aff! Vai passar, afinal, paciência. Um friozinho nos pés, calma, pronto.